Cidades inteligentes e sustentabilidade caminham juntas e passam pela questão da reciclagem do lixo

De acordo com Marcos Buckeridge, não se pode pensar em cidades inteligentes sem que haja uma gestão eficiente dos resíduos sólidos como forma de assegurar uma melhor qualidade de vida e a preservação ambiental

 14/11/2024 - Publicado há 4 meses
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A gestão de políticas públicas é importante para pensar a gestão dos resíduos sólidos -Foto: Denis Ferreira Netto/Sedest
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As cidades inteligentes e a sustentabilidade caminham juntas e a questão do lixo é algo importante nessa confluência de interesses. É vital ocorrer a gestão eficiente dos resíduos sólidos com foco na melhor qualidade de vida de seus moradores e na preservação do meio ambiente. Uma das principais questões ambientais da era contemporânea é, sem dúvida, a enorme quantidade de lixo produzida no planeta. Associado a isso, surge outro problema ainda mais desafiador: a não reutilização adequada desses materiais por causa do consumo desenfreado, do desperdício e do descarte incorreto de lixo.

Se o descarte dos resíduos sólidos é importante para a preservação do meio ambiente das cidades, imagine esses descartes em uma cidade do tamanho da capital paulista. A reciclagem ainda é a melhor maneira de solucionar o problema, como explica o professor Marcos Buckeridge, do Instituto de Biociências (IB) da USP, especialista em cidades e meio ambiente. Vários países no mundo já têm o assunto bem evoluído, casos de Japão, Cingapura e Dubai. 

Foto de um homem de meia idade, cabelos grisalhos, olhando para a câmera num meio sorriso
Marcos Buckeridge – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Os resíduos orgânicos, ou seja, o desperdício de alimentos, são o maior descarte existente no mundo. O pesquisador explica que o não desperdício dos alimentos resolveria dois problemas: além de conter a crise mundial de mudanças climáticas, ajudaria também a conter a fome no mundo. “A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) calcula que 1,3 bilhão de toneladas de alimentos é desperdiçado por ano no mundo – cerca de 1/3 do que é produzido globalmente. E a produção desse total de alimentos que é perdido responde por 8% das emissões de gases de efeito estufa. Portanto, o gerenciamento adequado dos resíduos sólidos é crucial para mitigar impactos ambientais negativos, como a poluição do solo, da água e do ar.

Gestão sustentável

A Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída no Brasil em 2010, busca promover a gestão sustentável dos resíduos, incentivando a redução, reciclagem e destinação adequada. Esse marco regulatório visa a minimizar impactos ambientais, fomentar a economia circular e conscientizar a sociedade sobre a importância da gestão responsável de resíduos. Além disso, políticas de conscientização e regulamentações governamentais são essenciais para promover práticas sustentáveis de descarte e incentivar a transição para uma economia circular, na qual os resíduos são vistos como recursos valiosos a serem reintegrados no ciclo produtivo.

A tecnologia poderia contribuir muito para a reutilização dos descartes, de acordo com o professor Buckeridge, “como a robótica e a de produção de enzimas que dissolvem os produtos ‘pets’ (garrafas, embalagens, copos, entre outros), fazendo o plástico voltar aos compostos iniciais para que voltem a ser reutilizados. A biotecnologia e as técnicas de engenharia podem contribuir bastante”, avalia. O rastreamento do lixo também já é feito atualmente com grande parte do material descartado para saber o destino final desse material. “Com esse traçado e entendendo a logística desse lixo é possível aprender a fazer um mapa para que ele tenha destinação certa, para que possa ser processado e reciclado”, explica.  

ODS

Sobre os  Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)  da ONU, os itens 12 e 17 estão relacionados à gestão de resíduos sólidos como redução de poluentes e otimização da gestão. O professor garante que as grandes cidades estão envolvidas na meta da economia circular, mas ainda há muito a fazer em comparação a países da Europa, por exemplo. “As Prefeituras de cidades grandes estão preocupadas com a economia circular, mas o Brasil é muito atrasado se comparado a países como Alemanha e Japão, ainda temos muito o que aprender. Em São Paulo, por exemplo, ainda temos catadores vagando pelas ruas da cidade. Ainda não existe um sistema bom e integrado”, finaliza.

Gestão de resíduos sólidos refere-se ao conjunto de práticas e políticas adotadas para minimizar a geração de resíduos, promover a coleta seletiva, tratamento adequado e disposição final responsável. Além disso, a gestão eficaz inclui o descarte apropriado de resíduos, especialmente os perigosos, de modo a prevenir danos ambientais e proteger a saúde pública. O ano de 2025 será de extrema importância para o assunto, com a oportunidade de sediar a COP 30, que será realizada em Belém, no Pará. 

O Brasil vai ter a oportunidade de mostrar mais do que isso, é o País olhar para si mesmo e levar ideias mescladas e integradas de formas sustentáveis. “Não é mais possível estabilizar o aumento da temperatura em 2°C.” O tom pessimista foi dominante entre os cientistas na última Assembleia Geral da ONU. A humanidade tem até 2050 para descarbonizar a economia, sob o risco de sofrer graves consequências em função das mudanças climáticas. A meta foi estabelecida no Acordo de Paris, assinado por 193 países, mas já não é alcançável.


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