China e Rússia, aliadas da Venezuela, poderiam pressionar Maduro

Professor da USP diz que China tem poder de negociação por ser principal importador do petróleo venezuelano

 22/05/2018 - Publicado há 7 anos
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O Grupo de Lima, do qual o Brasil e mais 13 países latino-americanos fazem parte, juntamente com o Canadá, não reconheceram a reeleição de Nicolás Maduro na Venezuela. O governo norte-americano anunciou um decreto ampliando sanções ao país, proibindo indivíduos ou entidades agindo nos EUA de comprar dívidas do governo venezuelano. Rafael Villa, professor do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP, e Marco Piva, jornalista e apresentador do programa Brasil Latino, falaram sobre a crise política na Venezuela.

Segundo Rafael Villa, a possibilidade de que Maduro aceite alguma negociação do resultado, como requerido pela oposição, é bem limitada. Na opinião dele, as posições do Grupo de Lima também têm pouco efeito, principalmente do ponto de vista prático, para fazer Maduro mudar de atitude. Ele também afirma que as sanções econômicas que os EUA impõem à Venezuela têm mais custo para a população, que vive numa condição econômica quase caótica, do que para o governo.

Foto: Lula Marques / AGPT via Fotos Públicas

Para Marco Piva, a imprensa não consegue retratar a complexidade da situação venezuelana, diante da qual, do ponto de vista dos grupos em disputa, não há vencedores ou perdedores. A única “perdedora”, até então, é a população do país. Sobre a abstenção de 54% nas eleições, ele ressalta que, proporcionalmente, Maduro teve mais votos do que tem, geralmente, uma eleição nos EUA, porque na Venezuela o voto também não é obrigatório. Essa abstenção não significa necessariamente uma vitória da oposição, pois a população venezuelana já não acredita em uma conciliação entre os grupos em disputa. Para o jornalista, as pressões internacionais também não terão efeito.

O professor Rafael Villa aponta duas possibilidades de saída. O setor da oposição que participou das eleições, encabeçado por Henri Falcón, pode fazer algum movimento de negociação com o governo Maduro. Outra solução seria alguma pressão por parte de países que hoje são aliados da Venezuela, como China e Rússia. A China se transformou no principal mercado de exportação do petróleo venezuelano e isso lhe confere capacidade de pressão sobre Maduro. Entretanto, o cientista político acredita que tais países prefiram conservar a aliança política com a Venezuela a “se intrometer” nos assuntos internos do país.

Marco Piva ressalta a crise dos refugiados. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para Refugiados, o Brasil deve ter recebido cerca de 50 mil venezuelanos, principalmente por Roraima, enquanto a Colômbia recebeu mais de 800 mil venezuelanos, o Chile, 160 mil e a Bolívia, mais de 100 mil. A situação se espalha pela América Latina e o Brasil, se comparado a outros países, teve um impacto pequeno. Para ele, é importante olhar a situação com cuidado para afastar a ideia de xenofobia. O jornalista comenta ainda a importância de que a solução parta da Venezuela, pois sabe-se, através da história, que intervenções militares de fora sempre acabam sendo desastrosas.

Jornal da USP no Ar, uma parceria do Instituto de Estudos Avançados, Faculdade de Medicina e Rádio USP, busca aprofundar temas nacionais e internacionais de maior repercussão e é veiculado de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 9h30, com apresentação de Roxane Ré.

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