O USP Analisa está apresentando um especial, em dois programas, sobre a política externa brasileira e a inserção do Brasil no contexto mundial. Neste segundo programa, o docente do Instituto de Relações Internacionais da USP, Pedro Dallari, comenta as relações entre Brasil e China, a recusa do presidente Jair Bolsonaro em comparecer à posse do novo presidente argentino e também fala sobre o trabalho realizado na Comissão Nacional da Verdade, da qual ele foi relator e coordenador.
Dallari lembra que, durante a campanha, Bolsonaro havia defendido o congelamento das relações entre Brasil e China, porém voltou atrás durante a recente visita feita ao país asiático. O docente acredita que essa postura vai se repetir na relação com a Argentina. “Não significa, evidentemente, que a sociedade brasileira, os políticos brasileiros e o presidente da República precisem gostar de quem governa o outro país. Trata-se de ter uma relação respeitosa em benefício comum, assim como duas famílias que são vizinhas nas suas residências não precisam necessariamente ter um convívio estreito e gostar umas das outras, mas é conveniente, para o interesse geral, que se tratem de maneira respeitosa. Eu espero que prevaleça essa orientação tradicional e, assim como ocorreu com a China, a orientação do governo Bolsonaro mude para se adaptar ao que é o padrão da ação internacional no Brasil.”
Sobre a atuação da Comissão Nacional da Verdade, o professor destacou que ela não se baseia em opiniões, mas sim em diversos documentos, inclusive das próprias Forças Armadas. Ele citou o exemplo de uma polêmica recente, envolvendo uma afirmação do presidente Jair Bolsonaro.
“O presidente Bolsonaro cometeu até uma grosseria contra o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz, dizendo que sabia que o pai dele, Fernando Santa Cruz, havia sido morto na época da ditadura militar não pelas Forças Armadas, mas pelos próprios companheiros do seu grupo político. Ora, a Comissão Nacional da Verdade havia estudado esse caso e comprovado que Fernando Santa Cruz havia sido morto e seu corpo desaparecido quando estava preso pelas Forças Armadas. E como nós sabíamos disso? Por conta de dois documentos, um da Marinha e um da Aeronáutica, que descreviam, apontavam que Fernando Santa Cruz havia sido preso no DOI-Codi do Rio de Janeiro. Portanto, a Comissão não se baseou na opinião de ninguém, se baseou em dois documentos das próprias Forças Armadas”, diz ele.
O USP Analisa é uma produção conjunta do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto e da Rádio USP Ribeirão Preto.