Brasil entra em recessão técnica após PIB cair por dois trimestres consecutivos

Segundo Paulo Feldmann, desempenho da economia é preocupante e saídas dependem de uma boa política de geração de empregos com investimento estrangeiro

 08/12/2021 - Publicado há 3 anos
PIB – Fotomontagem sobre imagens de Marcos Santos / USP Imagens
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O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, um indicador que mede o fluxo de bens e serviços finais produzidos, caiu 0,1% no 3º trimestre. Apesar da alta de 1,1% no setor de serviços, a agropecuária teve queda de 8% e a indústria ficou estagnada. Com esse desempenho, o País entrou em recessão técnica, um sinal de alerta para o desempenho econômico de 2022.

Paulo Feldmann, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, explica que a recessão técnica ocorre quando o PIB do país cai em dois trimestres consecutivos (no 2º trimestre o recuo foi de 0,4%). “É um fato ruim para a economia porque gera uma série de problemas”, diz.

Paulo Feldmann – Foto: FEA-USP

Além do aumento do desemprego, é esperado que a renda da população caia, o que prejudica os índices de consumo e produção. “É uma bola de neve”, avalia Feldmann. Entretanto, isso não configura uma recessão de fato, pois, apesar das quedas, o Brasil deve fechar o ano com crescimento de aproximadamente 5%.

O governo federal adota um discurso de retomada da economia. Mesmo no último trimestre, que costuma ser beneficiado pelas festas de fim de ano, as perspectivas não são otimistas. Desemprego, trabalho informal e inflação devem prejudicar o consumo no período.

Outro agravante é o recuo na agropecuária, que deve continuar em queda. “A China, que é o nosso principal comprador, está, pela primeira vez, enfrentando dificuldades em seu crescimento”, explica Feldmann. “Ela vai comprar menos do Brasil”, acrescenta, ao analisar as expectativas para o setor.

Segundo o professor, a estagnação da indústria também preocupa. “As pessoas precisam consumir produtos que a nossa indústria não está mais fabricando”, afirma, “eles têm que ser importados e o dólar está muito alto”. A seca e a crise energética também devem prejudicar o setor.

A avaliação geral da economia brasileira não é boa. Segundo o professor, as medidas adotadas pelo governo, como subir a taxa de juros, não são adequadas para combater a inflação de demanda e ainda pioram a recessão. “Houve um erro grave de diagnóstico por parte do governo e isso significa que a inflação não vai diminuir.”

De acordo com Feldmann, também não é possível depositar toda esperança no setor de serviços. “Ele é o único que não está indo tão mal neste momento, mas funciona a reboque dos outros setores.” Com o comércio prejudicado a expectativa é que o setor não se recupere.

“Nós estamos atravessando a fome intensa, 10% da população brasileira não tem o que comer todos os dias”, diz. “Com essa dificuldade, pessoas passando fome e renda caindo, como que a gente pode esperar que vá haver um crescimento do consumo?” questiona o professor.

Para 2022, as saídas dependem de uma boa política de geração de empregos. Para isso, é preciso recorrer ao investimento externo. “É a única coisa que pode salvar o Brasil neste momento”, conclui Feldmann.


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