Você sabia que há uma doença que afeta principalmente homens jovens entre 18 e 34 anos? O câncer de testículo corresponde de 1% a 3% dos casos de câncer em homens. Essa doença deve ser diagnosticada precocemente para um melhor resultado no tratamento. O mês de abril é de conscientização sobre o câncer testicular. Para falar sobre o assunto, Jornal da USP no Ar conversou com Jorge Hallak, urologista da Faculdade de Medicina e coordenador do Grupo de Estudos em Saúde Masculina do Instituto de Estudos Avançados (IEA), ambos da USP.
O câncer de testículo é o tumor sólido mais comum do homem dos 15 aos 35 anos de idade. Ele chama atenção por ter um início muitas vezes sigiloso, sem muitos sintomas, ou com um leve desconforto na região do escroto que pode ser confundido com uma inflamação. “Quando o indivíduo consegue identificar que o tumor está presente, já houve um aumento significativo do tamanho do tumor no testículo”, comenta Hallak. Este tipo de câncer apresenta duplicação da massa tumoral a cada 20 dias, obtendo um crescimento rápido se ele for um tumor seminomatoso.
“A grande característica do câncer de testículo é que ele é curável em praticamente todas as etapas do processo. Mesmo em diagnósticos mais avançados, ele ainda é 95% ou mais curável completamente”, afirma o médico. Evidentemente é preferível fazer um diagnóstico inicial, no qual somente a retirada do tumor já é o tratamento. Em estágios mais avançados, além da retirada do tumor, será preciso radioterapia e/ou quimioterapia complementar.
Os indivíduos com maior risco de desenvolver a doença são aqueles que nasceram com ectopia, ou seja, “indivíduos que tiveram histórico de ausência de um dos testículos do escroto e que depois desceu naturalmente, ou induzido por hormônios ou por cirurgia”. Outro componente de risco é a população de homens com infertilidade masculina, a chamada disgenesia gonadal, em que um testículo já apresentou falhas de desenvolvimento de maneira embriológica. “Algo que pode dar dica são os níveis com baixa qualidade do sêmen depois dos 18, 20 anos de idade. É evidente que é difícil de diagnosticar, porque o homem não faz check up, não faz exame de rotina. Isso deveria ser mais preconizado para ele saber se tem boa qualidade seminal e saúde testicular”, analisa o especialista.
Outro fator importante é o autoexame de testículo. “No chuveiro e com água quente, você coloca as duas mãos. Uma das mãos você segura um dos testículos, e com a outra mão você palpa delicadamente toda a superfície testicular procurando por nódulos, irregularidades, processos inflamatórios. E é bom que o indivíduo compare o testículo direito com o esquerdo, que tem que ter o mesmo tamanho. Se um dos testículos estiver ausente da bolsa escrotal ou com tamanho diminuído, é sinal que algo no desenvolvimento não está correto” e depois disso é preciso ir ao andrologista para identificar a causa e tratar a alteração desse crescimento.
Hallak comenta que, nos países de língua anglo-saxã, isso já é ensinado nas escolas aos indivíduos na puberdade (ou até mesmo antes da puberdade). “No Brasil, temos tentado difundir isso e não conseguimos de maneira bem fática. O homem tem que entender que o motor de testosterona e de espermatozoides são os testículos. O indivíduo fica muito ligado na função do pênis de ter ereção, mas o verdadeiro motor por trás disso são os testículos.”
O especialista também comenta que “os indivíduos com câncer no testículo têm que fazer uma criopreservação de sêmen, congelar os espermatozoides antes do tratamento”. A quimioterapia ou radioterapia complementar podem afetar a produção de espermatozoides do outro testículo, até chegar na fase de azoospermia, em que há ejaculação sem nenhum espermatozoide.
Em suma, o homem deve ter o hábito e a cultura de autoexame e de conhecer o próprio corpo. Qualquer dor na região do testículo é um sinal de alerta para o qual se deve procurar o auxílio do urologista ou do andrologista. “Os testículos são externos, não estão internos como o ovário da mulher. Então para homens há essa vantagem anatômica, digamos assim, da gente conseguir examinar o próprio órgão e identificar alguma coisa de maneira muito precoce”, pontua Hallak.