
Historicamente os cursos da área da saúde são fortes na avaliação de conhecimento, provas escritas e provas orais, bastante comuns nessa área. Mas, segundo o professor Valdes Roberto Bollela da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, o grande problema é que, para se formar um bom profissional da saúde é necessário mais do que conhecimento, “é preciso ter segurança de que essa pessoa consegue cuidar da saúde de alguém”.
Para o professor, é necessário checar as habilidades clínicas e de comunicação dos estudantes, o que é difícil em provas escrita e oral, e ele considera um ponto muito falho. “Existe uma terceira dimensão na formação, que vai além do conhecimento, que é chamada de profissionalismo na língua inglesa”, explica o professor. No Brasil, diz, chamamos de atitudes, valores profissionais, que é o indivíduo ter respeito pela decisão do paciente, pela família e seguir os valores éticos da profissão. “Tudo o que é esperado de um profissional, na graduação de forma geral, normalmente não é formalmente avaliado com estratégias específicas para isso. Na América Latina isso ainda é incipiente.”
Bollela lembra que uma das práticas empregadas com êxito nos cursos de Medicina fora do Brasil é a avaliação programática, um conceito bastante novo, dos últimos dez anos. Já existe experiência de avaliação programática ou uso de sistemas de avaliação na Europa, Estados Unidos e Canadá. “Hoje, o indivíduo se forma profissional da saúde a partir da nota mínima para aprovação, com isso supomos que ele tem conhecimento, habilidades e atitudes. Mas a literatura que traz estudos sobre isso deixa claro que ter sido aprovado com nota limite nas diferentes disciplinas não garante competência no todo.”
O professor alerta que a avaliação programática não elimina as avaliações de conteúdo que são feitas atualmente e lembra que a melhoraria na formação profissional tem reflexo direto na qualidade. Bollela é pesquisador na área de educação médica, com ênfase em avaliação curricular, avaliação do estudante e residência médica, e reafirma que a qualidade nessa formação passa pelos critérios de avaliação. “Esse é um elemento fundamental dos currículos dos cursos de graduação, programas de especialização e aprimoramento, residência médica e multiprofissional.”
Por isso, o assunto é tema da Conferência Internacional de Avaliação do Estudante e do Profissional em Formação na Área da Saúde, da qual o professor Bollela é presidente da comissão organizadora. O evento será em Ribeirão Preto, nos dias 20 e 21 de março. Os detalhes da programação e das inscrições estão no portal www.conferencerp.com.br.
Ouça no player acima a entrevista na íntegra.