Existem vários tipos de fobia, mas alguns causam impactos diretos na qualidade de vida das pessoas. É o caso da agorafobia, caracterizada por sintomas como medo e ansiedade incontrolável de viver situações que fogem do controle e causam constrangimento em meio a multidões, locais abertos ou muito fechados. Segundo dados do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, cerca de 150 mil brasileiros sofrem de agorafobia atualmente.
É o que explica a professora e presidente da Federação Latino Americana de Psicoterapias Cognitivas e Comportamentais, Carmem Beatriz Neufeld, do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP. Segundo a professora os agorafóbicos sentem “medo de passar mal, ter ataques de pânico ou crises de ansiedade em locais como transportes públicos, aviões, navios, estacionamentos, shoppings, shows, cinemas, estádios de futebol, entre outros”.
Carmem diz que a agorafobia tende a ocorrer no fim da adolescência ou depois dos 40 anos e que estudos apontam que pessoas que já tiveram ataques de pânico são mais suscetíveis a apresentar o problema. Já o diagnóstico da agorafobia, alerta a psicóloga, deve ser feito com muita cautela e avaliação cuidadosa por um profissional da saúde mental, pois o problema não está ligado necessariamente aos transtornos de ansiedade e pânico.
A professora explica que muitas pessoas podem ter preocupações parecidas com os sintomas da agorafobia sem, necessariamente, sofrer do problema. Além disso, comenta Carmem, “nem sempre a pessoa que tem a agorafobia apresenta outros problemas ligados à ansiedade, daí a importância do diagnóstico ser feito por um profissional da saúde treinado e gabaritado para fazer essa avaliação”.
O tratamento também varia de caso para caso, mas, em geral, a indicação é de psicoterapia, podendo ser associada a tratamento com psicofármacos, que é prescrito e acompanhado pelo psiquiatra. “Dados mostram que o uso exclusivamente de medicamentos tende a não resolver e manter alguns sintomas residuais; portanto, o ideal é o tratamento combinado com a psicoterapia, sempre avaliando caso a caso”, informa.
Para a professora, entre as intervenções, a que apresenta melhor resultado é a psicoterapia cognitiva comportamental, “na qual o psicólogo busca entender as ideias e crenças que o paciente tem em relação a esses sintomas”. Assim, é possível “ajudar o paciente a aprender a lidar com esses sentimentos e pensamentos, além de usar estratégias comportamentais para manejar essas situações”, garante.
Carmem lembra ainda que o apoio sem julgamento da família e dos amigos é primordial para os pacientes. “As pessoas que sofrem de agorafobia tendem a se isolar, portanto, é muito importante oferecer suporte e estimular o paciente a buscar ajuda profissional sem uma postura julgativa”, enfatiza.
Ouça a entrevista completa da professora Carmem Beatriz Neufeld ao Jornal da USP no Ar – Edição Regional no player acima.