A suspensão do pagamento das bolsas da Capes coloca em risco a pesquisa brasileira e a saúde mental dos pesquisadores

Por Paulo H. Evangelista, doutorando do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP

 07/12/2022 - Publicado há 2 anos
Paulo H. Evangelista – Foto: Arquivo pessoal

 

Em virtude dos cortes inéditos do governo federal nas universidades e no MEC, afetando mais de 100 mil bolsistas e profissionais cientistas de diferentes áreas do Brasil, os pós-graduandos do Programa de Pós-Graduação em Fisiologia Humana do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP se mobilizam em busca de esclarecimentos da Capes quanto ao pagamento das bolsas referente a dezembro. As bolsas são a única forma de sobrevivência dos profissionais em nível de mestrado, no valor de R$ 1.500, e doutorado, no valor de R$ 2.200, servindo para pagamento de despesas, como alimentação e aluguel. Para um aluno de mestrado da USP na capital que resida nas imediações do Butantã, por exemplo, esse valor pode corresponder a quase 70% do valor total da bolsa recebida.

Cabe ressaltar que a maioria dos pós-graduandos se desloca de sua cidade natal, de diferentes Estados do Brasil, e vem até a USP em busca de um sonho, que é fazer pós-graduação na maior universidade do País e contribuir com a ciência. Nós, pós-graduandos, além de estarmos inseridos diretamente nas atividades de pesquisa voltadas a nossa tese e/ou dissertação, desenvolvemos também atividades de extensão voltadas à comunidade no geral. Todas as atividades construídas voluntariamente por nós para a comunidade externa são geralmente gratuitas e oferecidas a toda a sociedade.

O Programa de Pós-Graduação (PPG) em Fisiologia Humana, por exemplo, realiza anualmente o Simpósio de Fisiologia Humana do ICB da USP, um encontro de pesquisadores, jovens pesquisadores, profissionais e demais interessados, com principal papel de divulgar a ciência que é feita dentro da Universidade a alunos de outras universidades, professores, profissionais graduados e demais. Devido à instabilidade nos pagamentos, os pós-graduandos que organizam voluntariamente o 3º Simpósio do PPG Fisiologia Humana agora em 2022 estão à deriva, e serão obrigados a cancelar um evento que se iniciaria no dia 7 de dezembro e que contaria com a presença de mais de 700 inscritos de diferentes regiões do Brasil.

A suspensão do pagamento das bolsas afeta grandiosamente a vida dos pós-graduandos, e em especial afeta nossa saúde mental, pois, com base nos comunicados, não sabemos ao certo quando iremos receber o dinheiro, e isso afeta diretamente nossa sobrevivência. As bolsas não são reajustadas há um bom tempo, o que desqualifica mais ainda os valores recebidos com a inflação atual. Além disso, nós, pós-graduandos, assinamos com as agências contratos declarando dedicação exclusiva às atividades na Universidade, e não podemos exercer atividades externas, o que nos vincula, unicamente, à bolsa como nossa fonte de renda. Essa suspensão, além de afetar nossas pesquisas, as atividades de extensão e nossa saúde mental, aumenta o desinteresse e o engajamento com a carreira de pesquisa no Brasil, o que desfavorece os avanços na Ciência do nosso país.


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