Pró-Reitorias discutem a interdisciplinaridade em evento

O Encontro Acadêmico Interdisciplinar no Ensino, Pesquisa e Extensão, será realizado nos dias 15 e 16 de abril, na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin e reunirá especialistas do Brasil e do exterior com o objetivo de fazer com que a interdisciplinaridade se difunda nestas três áreas de atuação da Universidade.

 11/04/2013 - Publicado há 11 anos
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Em evento a ser realizado na próxima semana na Biblioteca Guita e José Mindlin, especialistas do Brasil e do exterior discutem o que fazer para que a interdisciplinaridade permeie todas as atividades de ensino, pesquisa e extensão da Universidade

A interdisciplinaridade é a área que mais cresce entre as 48 abarcadas pela Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) do Ministério da Educação (MEC). Ao mesmo tempo, porém, ainda carece de maior clareza sobre ela mesma, avalia Paulo Cesar Duque Estrada, coordenador central de Pós-Graduação e Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e presidente do Fórum de Pró-Reitores de Pós-Graduação e Pesquisa do Brasil (Foprop). “Ainda não há clareza sobre os conceitos entre as próprias pessoas que trabalham na área”, diz o professor.

O pró-reitor de Pós-Graduação da USP, Vahan Agopyan, concorda. “Todos reconhecem que a interdisciplinaridade é um tema importante e que, no entanto, apresenta desafios muito complicados”, assinala. “Temos formação disciplinar, e precisamos aprender a raciocinar interdisciplinarmente e nos acostumar a trabalhar com pessoas de outras áreas.” O assunto, afirma o professor, está em debate no mundo todo, a ponto de escolas centenárias em vários países estarem se juntando por concluir que o modelo disciplinar não responde mais às demandas das universidades.

O debate vem se dando também na USP. A Universidade promove, nos dias 15 e 16 de abril, o Encontro Acadêmico Interdisciplinaridade no Ensino, Pesquisa e Extensão. As quatro Pró-Reitorias organizam em conjunto o evento, e seus titulares vão mediar painéis ao longo da programação (leia o texto abaixo: Integração em todas as áreas). “Uma das questões centrais é de que maneira podemos avançar na internalização da interdisciplinaridade na produção do conhecimento e como fazer com que isso se reflita nas atividades de pós-graduação, pesquisa, graduação e cultura e extensão”, diz Arlindo Philippi Junior, docente da Faculdade de Saúde Pública (FSP) e pró-reitor adjunto de Pós-Graduação da USP.

Os dois dias de discussão também vão levantar contribuições para um encontro sobre o mesmo tema da Regional Sudeste do Foprop, em novembro. O fórum está montando uma espécie de “bancada científica” com especialistas em interdisciplinaridade. A ideia é que esses pesquisadores assessorem a entidade na produção de um documento a ser entregue aos participantes do encontro de novembro para subsidiar e auxiliar no avanço de práticas interdisciplinares – por sinal, incentivadas por diretrizes da Capes e do MEC.

Nova formação

Arlindo Philippi foi um dos organizadores do livro Interdisciplinaridade em ciência, tecnologia e inovação (Manole, 2011), cujos 34 capítulos se estendem ao longo de quase mil páginas, atestando por si só a complexidade do tema. No capítulo que abre o volume, o professor, ao lado de outros colegas, escreve: “Se a ideia da interdisciplinaridade não é nova, novas são as características de que ela se reveste na proposta que emerge na atualidade, pelos desafios que se lhe apresentam como atividade. Ou seja, a de se propor à tarefa precípua de operar nas fronteiras disciplinares e na (re)ligação de saberes. A interdisciplinaridade busca responder, assim, a problemas gerados pelo próprio avanço da ciência moderna disciplinar, quando esta se caracteriza como fragmentadora e simplificadora do real”.

Para o presidente do Foprop, duas preocupações centrais embasam a premência de impulsionar práticas interdisciplinares nas universidades: uma é a formação de jovens pesquisadores que não sejam mais “moldados” na antiga estrutura disciplinar, formatada em campos de saber rigidamente diferenciados. Esses pesquisadores teriam uma visão mais ampla, democrática, generosa e enriquecida, define Duque Estrada. De outra parte, o tema se impõe pela própria necessidade de responder a questões importantes da sociedade – como aquelas relacionadas, por exemplo, ao ambiente ou à segurança pública –, que requerem cada vez mais esforços vindos de diferentes direções.

Docente de Filosofia, Duque Estrada “puxa a brasa” para o seu assado ao propor a reflexão de que a ideia de recuperar uma unidade do saber que acabou estilhaçado em vários domínios estanques talvez seja ilusória. “Nosso desafio seria não tanto o de resgatar uma unidade perdida, mas sim o do que fazer quando nos damos conta de que o saber não é tão uno assim”, diz. “Isso talvez nos abra para novas possibilidades de compartilhar saberes, trocar informações e resolver problemas em conjunto, e não mais dentro de nossas áreas fechadas.”

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Integração em todas as áreas

A organização do espaço urbano pode interferir no excesso de peso da população? Um trabalho desenvolvido por universidades portuguesas, em conjunto com o Ministério da Saúde do país, investigou as conexões entre fatores ambientais e seu impacto no estilo de vida e no comportamento dos moradores, resultando em políticas públicas para o combate à obesidade na Grande Lisboa. A pesquisa, eminentemente interdisciplinar, teve como uma das coordenadoras a professora Paula Santana, da Universidade de Coimbra. A pesquisadora nas áreas de Geografia da Saúde e Planejamento Urbano Saudável será uma das palestrantes no painel “Processos e Concepções Interdisciplinares na Pós-Graduação”, na tarde do dia 15, no encontro acadêmico promovido pela USP.

Experiências brasileiras e internacionais são um dos focos do programa, que terá palestrantes e debatedores de todo o País e do exterior. Na segunda-feira, às 9h30, o ex-reitor da USP José Goldemberg será o mediador da mesa “Interdisciplinaridade como Estratégia de Integração Científica e Acadêmica da Universidade”. Às 10h30, a pró-reitora de Graduação da USP, Telma Zorn, media debate sobre “Interdisciplinaridade na Graduação”. Às 14h, o tema é “Interdisciplinaridade para o Desenvolvimento da Ciência, Tecnologia e Inovação”, com mediação de Paulo Cesar Duque Estrada. Às 15h30 haverá a mesa com a participação de Paula Santana e coordenação de Vahan Agopyan.

No dia 16, às 8h30, Marco Antonio Zago, pró-reitor de Pesquisa da USP, media o debate sobre “Interdisciplinaridade na Pesquisa”. Às 10h30, a pró-reitora de Cultura e Extensão Universitária da USP, Maria Arminda do Nascimento Arruda, coordena a mesa sobre “Cultura e Extensão como Espaço de Construção Interdisciplinar”. Às 14h, Arlindo Philippi Junior será o mediador da mesa-redonda em que os relatores dos diversos painéis debaterão as perspectivas para institucionalização da interdisciplinaridade no ensino, pesquisa e extensão da USP.

O encontro será realizado no auditório István Jancsó, na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, na Cidade Universitária, e é restrito a dirigentes, membros dos conselhos centrais e convidados. Os organizadores incentivam toda a comunidade uspiana a acompanhar os debates ao vivo pelo site do IPTV da USP.

(Matéria publicada no Jornal da USP, edição nº 993, de 8 a 14 de abril de 2013)


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