Instituto de Estudos Brasileiros lança podcasts dedicados ao centenário de Osman Lins

“Osman Lins – 100 anos” explora as diferentes facetas da obra do escritor pernambucano e compõe painel em sua homenagem

 26/07/2024 - Publicado há 8 meses     Atualizado: 29/07/2024 às 13:39
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Foto: Divulgação/IEB-USP

No último dia 5 de julho, o escritor Osman Lins, falecido em 1978, completaria 100 anos de idade. Em comemoração a essa data, o Instituto de Estudos Brasileiros, em colaboração com o Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH/USP), lançou uma série de 15 episódios do Podcast do IEB focados em Osman Lins: Osman Lins – 100 anos. Dentre os assuntos abordados, os diferentes tipos de produção literária e o estilo inovador do autor pernambucano, a partir da perspectiva de estudiosos admiradores de sua obra, se destacam. O IEB é detentor de parte do arquivo pessoal de Osman Lins, doado pela viúva do escritor, a também escritora Julieta de Godoy Ladeira.

Os episódios fazem parte de um painel de homenagens dedicadas ao autor, que começaram com a disciplina A Obra de Osman Lins à Luz da Crítica Literária, da pós-graduação do IEB e de Teoria Literária, coordenada pelo professor Marco Moraes, do IEB, e por Sandra Nitrini professora sênior do Departamento de Teoria Literária e Literatura Contemporânea da FFLCH. Nos dias 20, 21 e 22 de agosto haverá, também, um colóquio, chamado Osman Lins: 100 anos – A vivacidade de seu legado, que fecha a série de homenagens. Com o objetivo de abranger o maior número de leitores e apaixonados osmanianos nos três eixos desenvolvidos pelo projeto, aqueles que participaram de uma das atividades – a disciplina de pós, o podcast e o colóquio, este ainda por acontecer – não poderão participar das demais, abrindo espaço para mais interessados.

Temas e abordagens

Sandra Margarida Nitrini – Foto: Mauro Bellesa/IEA-USP

Os episódios do podcast do IEB que abrangem a homenagem a Osman Lins vão do 216 ao 202 — nesta ordem —, em que o primeiro traça um panorama geral do projeto e os demais passeiam pelos diferentes gêneros desenvolvidos pelo autor. Segundo Sandra Nitrini, que coordenou o projeto ao lado da professora Elizabeth Hazin (UnB) e narrou o primeiro episódio, não houve um direcionamento específico quanto aos assuntos abordados em cada episódio — cada convidado pôde se manifestar dentro daquilo que lhe tocava mais.

A partir daí, assim como Lins produziu em diferentes vertentes da literatura, os podcasts também abrangeram a variedade de sua obra, passando pela crítica, pela dramaturgia e pela “menina dos seus olhos”, nas palavras de Sandra: a ficção. “Predominaram manifestações sobre a obra ficcional dele e em particular sobre as mais recentes. E temos uma manifestação sobre o ensaio Guerra sem testemunhas, em que ele trata da relação do escritor com o próprio ato de escrever, além de uma parte dedicada à produção teatral dele.”

O primeiro episódio da série Osman Lins – 100 anos está disponível abaixo:

Um artista da letra

Para a professora, a marca do escritor pernambucano é a inovação. “Mas não a inovação pela inovação; a inovação como desdobramento de um compromisso sério dele com a arte de escrever, seja qual for a linguagem. Ele rompe com as fronteiras de gênero”, explica. Essa ruptura pode ser observada tanto na diversidade de gêneros abordados — contos, romances, novelas, peças de teatro, artigos, livros de viagem e poesias, por exemplo —, como também na transformação dentro de um mesmo gênero.

Enquanto os primeiros romances de Lins se mantinham dentro de padrões tradicionais – seu livro de estreia, O visitante, foi publicado em 1955 – , Nove, novena (que reúne nove narrativas), Avalovara e Rainha dos cárceres da Grécia trazem novas perspectivas de literatura de mundo e de sociedade: “Ele sai do que seria aquele tipo de registro do romance burguês e parte para um tipo de narrativa com uma perspectiva mais coletiva. E isso implica a sua manifestação em linguagem literária, que passa a contar com variados narradores, com a quebra da linearidade, com fragmentos que se entrecruzam”. Ela completa citando a presença protagonista de personagens como crianças, adolescentes, velhos e mulheres como um elemento novo e diferente do que se fazia até então.

A inovação também se vê presente no modelo de narrativa desenvolvido por Lins, que pende ao subjetivo — e visa refletir sobre o próprio ato de escrever para ser construído, indo além da técnica narrativa e dos experimentos teóricos e formais e explorando a ontologia e a antropologia. É sobre isso que reflete o episódio 211, Avalovara: arte e pensamento [por Harley Farias Dolzane]. Em Avalovara (Guanabara Dois, 1973), as formas geométricas são o meio utilizado pelo autor para desenvolver esses mecanismos. “A espiral se refere ao tempo e o quadrado, ao espaço. E a organização é feita de tal maneira que dentro do quadrado que ele estipula essas linhas vão recorrendo em forma de espiral”, analisa Sandra.

Todos esses elementos, aliados a uma sobreposição do pensamento ao conhecimento e ao uso de temas metanarrativos e da metaficcionalidade, fazem com que Osman Lins seja, para a coordenadora do projeto, uma personalidade singular da literatura brasileira, e que pode ser objeto de admiração de todos. “Queremos passar para os leitores a ideia de que a obra de Osman Lins — que tem a fama de ser hermética —, embora exija muito do leitor, é legível e pode ser atrativa. E ao longo dos anos nós vemos cada vez mais leitores interessados, desde os universitários até os comuns.”

Avalovara (Guanabara Dois, 1973) simboliza a inovação trazida por Osman Lins ao unir o subjetivo à sua percepção concreta da realidade, e é tema de dois episódios da série Osman Lins – 100 anos – Foto: Reprodução/A Tábua Rasa/Avalovara

Para conferir essa e outras séries do Podcast do IEB, basta clicar neste link.

*Estagiário sob supervisão de Marcello Rollemberg


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