Inteligência artificial multimodal: máquinas que “enxergam” pacientes?

Eduardo Rocha comenta artigo publicado na revista “Science” a respeito da tecnologia cada vez mais sofisticada a serviço da ciência médica

 27/09/2023 - Publicado há 10 meses
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Como sintetizada em análise do médico, cardiologista e pesquisador Eric Topol, publicada em setembro de 2023, na revista Science, a tecnologia das máquinas está sendo capaz de “enxergar” informações de exames tradicionais usados em diagnóstico médico e oferecer conclusões e previsões para os profissionais de saúde a respeito dos casos clínicos dos pacientes, tema que já foi abordado a respeito de exames oculares. A novidade é que ele expande para exames como raio X,  tomografias, biópsias de tumores e até o exame tradicional de eletrocardiograma (ECG).

Em resumo, o exame da retina pode dizer se há diabete, hipertensão arterial, risco de derrame ou infarto e doenças renais, um ECG pode indicar o sexo, a idade, se há anemia, risco de arritmia e doenças da tireoide, a imagem microscópica de uma amostra de biopsia de tumor pode indicar a origem daquele tecido, a mutação gênica e o prognóstico. Tudo isso ainda não está presente nas nossas rotinas médicas de trabalho e hoje cabe ao profissional fazer uso da sua experiência, conhecimento e busca por novas informações para chegar às evidências.

As observações do artigo do professor Topol são três: primeira: o aprendizado dessas máquinas diagnósticas não será simplesmente supervisionado e aprendido com os especialistas, mas será também autossupervisionado, aprendendo com as próprias hipóteses e conclusões, conforme forem trabalhando os dados. Segundo ponto: as fontes de aprendizado e checagem de informações são o que Topol chamou de multimodal: livros, artigos, páginas e outras fontes, que vão permitir checar e refinar as informações. Por último: o termo inteligência artificial generativa é impreciso, pois há mais do que geração de informações por trás dessa complexa tecnologia.

A tecnologia vai permitir analisar em breve cada indivíduo com a sua individualidade contida em aspectos estruturais, as condições ambientais obtidas do seu endereço, do ponto de vista individual fazer aconselhamento e de modo coletivo fazer alertas de ocorrências como epidemias em um determinado local. Isso que ele chama de IA multimodal, com máquinas “enxergando” e aprendendo, resume uma perspectiva revolucionária para um futuro breve. E, para os pessimistas em relação ao espaço de trabalho médico diante dessas máquinas com olhos capazes de diagnosticar, prever e aconselhar, um livro do professor indica que a inteligência artificial será capaz de humanizar a medicina de novo, que acredito seja um desejo de pacientes e médicos.                                                                                                                                                                                                                                  

     


Fique de Olho
A coluna Fique de Olho, com o professor Eduardo Rocha, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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