Formas de amor já existentes no passado tornaram-se mais visíveis em tempos de internet

Segundo Antônio Cerdeira Pilão, termos como poliamor e relacionamento aberto são adotados desde a década de 1970, nos Estados Unidos, e ganharam as redes sociais nos últimos anos

 21/09/2023 - Publicado há 8 meses
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Número de casais que exploram poliamor e relacionamento aberto tem aumentado, afirma especialista – Foto: Freepik

 

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São muitas as formas de se relacionar amorosamente, o que fica mais nítido com a presença constante das redes sociais na vida de boa parte da população. Uma das mais faladas nos últimos tempos envolve a não exclusividade a somente um parceiro amoroso. Entretanto, muitas pessoas acreditam que os termos mais falados, como poliamor e relacionamento aberto, são a mesma coisa. De acordo com Antônio Cerdeira Pilão, pós-doutorando do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da USP e autor de um livro que fala sobre poliamor, cada termo tem sua particularidade e, embora tenham se popularizado recentemente, essas são práticas antigas.

Antônio Cerdeira Pilão – Foto: Instituto CPFL

“Poliamor se diferencia do relacionamento aberto na medida em que é uma palavra que se refere não apenas à possibilidade de se envolver sexualmente com mais de uma pessoa, mas afetivamente. A necessidade da utilização do termo poliamor é o fato de que nenhum outro modelo de relação anterior deixava claro que se acreditava e se almejava viver mais de um relacionamento amoroso ao mesmo tempo, porque, no conceito de relacionamento aberto, a possibilidade normalmente é casual, sexual e pontual, não amorosa e conjugal, como é no poliamor.”

Além disso, o especialista afirma que a principal diferença entre as duas palavras está no fato de que “a poligamia, normalmente, se refere a casamento e que, principalmente, não são ambas as pessoas, homens e mulheres, que podem estabelecer mais de uma relação ao mesmo tempo”. Pilão ainda destaca que a nomenclatura sofre divisões ainda mais profundas. “Normalmente, a poligamia é subdividida em dois conceitos: poligenia, quando é um homem que pode se casar com mais de uma esposa, e poliandria, quando é uma mulher. Essa junção de poliginia e poliandria não só é rara do ponto de vista histórico, mas também, normalmente, o termo poligamia foi utilizado para se referir à poligenia, que é o mais comum, mais difundido ao longo da história, nas mais variadas sociedades.”

A origem

Embora pareça muito recente, por conta do debate nas redes sociais, as práticas do poliamor e do relacionamento aberto remontam a tempos mais distantes. Já a nomenclatura passou a ser difundida a partir de 1972, quando o casal de escritores George e Nena O’Neill lançaram, nos Estados Unidos, o best-seller Open Marriage: A New Life Style for Couples. Algumas referências a esse estilo de vida ganharam destaque na cultura popular, como na série That ‘70s Show, que foi ao ar entre 1998 e 2006 e retratou, de forma caricata e bem humorada, a vida em uma pequena cidade norte-americana nos anos 1970. No seriado, os personagens Bob e Midge Pinciotti se destacavam por práticas pouco comuns no casamento, como o relacionamento aberto.

“A partir dos anos 70 que o conceito começa a ser mobilizado para se referir a uma abertura de relação de um casal, mantendo a estrutura dominante, pensado como uma unidade amorosa e conjugal. O poliamor é um termo, uma palavra que tem uma história: surge no início dos anos 90, nos Estados Unidos, para se referir à possibilidade de amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo e manter relações acordadas entre todas as partes”, acrescenta Pilão.

O especialista também analisa os tempos atuais e pontua que o movimento do poliamor, ainda novo na história da humanidade, de fato tem se intensificado nos últimos anos, sobretudo com o advento da internet a uma grande parte da população. “Essas identificações, como não-monogâmico e poliamoroso, ganharam ímpeto atual que não tinham com a mesma ênfase em outras gerações. Não é para dizer que o debate é absurdo, absolutamente novo, mas ganha uma visibilidade, um alcance e uma adesão. O número de pessoas que vivencia relações não exclusivas consentidas é maior hoje, indiscutivelmente, do que era em outros períodos”, conclui.

* Estagiário sob orientação de Ferraz Jr.


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