
A preparadora vocal do Coral da USP (Coralusp) Beth Amin e o poeta e professor do Departamento de Letras Modernas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) Álvaro Faleiros vão lançar nas plataformas digitais, no dia 14 de março, o álbum Valsa no Tempo. A parceria entre os dois – que já ocorreu em trabalhos anteriores – inclui ainda o músico cubano Yaniel Matos.
O repertório do disco é composto de dez poemas de Faleiros na voz de Beth. Ao longo das faixas, a música popular brasileira se mistura a alguns ritmos tradicionais, como a valsa e o bolero. Cada uma das canções reflete sobre o tempo e a sua passagem. “É um resultado de reflexões que a gente teve durante a pandemia. Fala muito da relatividade do tempo, de amor, de tormenta, de mudança e impermanência”, conta Beth Amin.

Fazer o álbum ajudou Beth a superar problemas desenvolvidos durante o isolamento social, quando ela perdeu a vontade de cantar. “Foi como uma flor de lótus que nasce do lodo”, relata sobre a gravação do disco, que iniciou uma nova fase em sua vida após a pandemia e permitiu a ela se reencontrar e entender que a música, como diz, “é o que salva” a sua vida.
Além do período pandêmico, as vivências de Faleiros e Beth serviram como inspiração para Valsa no Tempo. A ideia do disco nasceu quando a cantora completou 60 anos e o poeta, 50. “A gente somou esses 110 anos de vida e se deu conta de que é um tempo considerável. E refletir sobre o tempo, a maturidade, a experiência da vida está na origem do disco”, diz Faleiros.
A Gente Se Come é a canção que abre o álbum, na qual uma relação amorosa é narrada com bom humor. Na terceira faixa, Hoje Tem Sol, o tema romântico se repete. A música fala sobre o despertar do dia e do amor como um instrumento movido a corda, que precisa de incentivos para continuar vivo e girando.
O amor também está no centro de Cheiro Bom, a quarta faixa, descrita por Faleiros como “uma oração para encher o ambiente de coisas boas e celebrar o amor em todas as suas formas”. Também há reflexões sobre o luto, em Manzanas Verdes, e sobre solidão, em Sincera Tristeza.
A música que está no meio do álbum, Silêncio, funciona como uma divisora de ânimos. É um instante reflexivo de Valsa no Tempo. Para Faleiros, cuja voz aparece nesta única faixa, é um momento de pausa depois da energia vibrante de Cheiro Bom.

Todas as músicas são inéditas em gravação, mas algumas são composições antigas, fruto da parceria de mais de uma década entre Beth e Faleiros. Preguiça, a nona faixa, é um exemplo. O poema foi o primeiro que Beth musicou com o professor, há 12 anos. Faleiros a descreve como uma música para relaxar e deixar o tempo passar de forma tranquila.
A voz é a sonoridade predominante nas faixas. “O álbum foi feito de forma bem minimalista, a gente o imaginou como um grande recital”, explica o poeta e professor. Os arranjos de Yaniel Matos estão concentrados no piano, com poucos acréscimos de outros instrumentos, para que as canções apareçam da forma mais pura e próxima do momento em que foram concebidas.

A comunicação entre um letrista, um músico e um arranjador possui uma dinâmica específica, lembra Beth. A preparadora vocal do Coralusp diz que eles interagem “em outro plano”, de forma “quase transcendental”, e que o disco revela muito do entrosamento entre ela, Faleiros e Yaniel Matos.
O processo de musicar os poemas de Faleiros é associado pela cantora ao de esculpir uma pedra. “O poema já tem uma melodia dentro, é só a gente saber achar. Eu tenho um processo muito intuitivo. Eu começo a ler o poema e a cantarolar. Vou esculpindo e dessa pedra sai uma escultura, uma música”, afirma Beth.
Beth, Faleiros e Yaniel Matos vão fazer dois shows de lançamento de Valsa no Tempo, nos dias 18 e 19 de março, às 20 e às 19 horas, respectivamente, no Teatro Brincante (Rua Purpurina, 412, Vila Madalena, zona oeste de São Paulo). Beth antecipa que a mesma delicadeza e força encontradas no álbum serão vistas nas duas apresentações, que terão a participação do violinista Felipe de Souza. A preparadora vocal conta também que o artista Conrado Lessa está editando vídeos para as músicas e fará um trabalho de projeção de imagens no palco com a arte que Fernando Vilela criou para o álbum.