Exposição destaca a arte e a arquitetura de Gaudí

O Instituto Tomie Ohtake abre a mostra “Gaudí: Barcelona, 1900″, que reúne 46 maquetes, quatro em escalas monumentais, que destacam os detalhes construtivos do mestre catalão. Uma obra que tem como referência os movimentos da natureza e a beleza humana

 02/12/2016 - Publicado há 7 anos
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Maquete das naves da Basílica da Sagrada Família na Exposição Gaudi - Barcelona 1900. Local: Instituto Tomie Ohtake. Foto: Cecília Bastos/Usp Imagens
Maquete das naves da Basílica da Sagrada Família na exposição Gaudí: Barcelona, 1900 – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

“A pintura por meio das cores e a escultura pela forma expressam os organismos existentes: figuras, árvores, frutos mostrando a interioridade através das exterioridades. A arquitetura cria o organismo e, por isso, este deve ter uma lei em consonância com as da natureza; os arquitetos que não se submetem a essa lei fazem a mixórdia em lugar de uma obra de arte.” Com esse pensamento que une arte e arquitetura, o catalão Antoni Gaudí edificou um conjunto de obras que surpreende pelo ineditismo das formas e pela sua cultura visual aberta às transformações do mundo. Um símbolo do seu trabalho é a catedral Sagrada Família, projeto iniciado em 1882 que até hoje, passados 134 anos, continua sendo construída. Uma obra que é a referência para a urbanização de Barcelona.
Desde o último dia 19 de novembro, o trabalho do mestre pode ser apreciado na mostra Gaudí: Barcelona, 1900 no Instituto Tomie Ohtake. Reúne 46 maquetes, quatro delas em escalas monumentais, e 25 peças entre objetos e mobiliário assinados pelo mestre catalão. Sob a curadoria do professor e historiador Raimon Ramis, da Universidade Autônoma de Barcelona, e do diretor do Museu Nacional da Catalunha, Pepe Serra Villalba, a exposição resgata o tempo da arte em que Gaudí viveu. Apresenta 40 trabalhos de outros artistas e artesãos que participaram junto com o arquiteto do Modernismo catalão e do cotidiano de Barcelona nos anos 1900.
“Procuramos contar a história do processo de criação do arquiteto trazendo o ambiente artístico em que ele viveu”, observa Ramis. “Trouxemos obras de Ricard Canals, Santiago Rusiñol, Joaquim Sunyer, Joaquim Vayreda, Mariá Pidelaserra, entre outros que representam a pintura da época. E também Gaspar Homar, que se destacou no design de móveis, além dos escultores Josep Reynés, Josep Limona e Pablo Gargallo. São trabalhos que reconstituem a criatividade que invadiu Barcelona em 1888, quando começou a expansão urbanística da cidade, até 1929, que marcou o fim de um momento cultural considerado a época de ouro para a cidade.”
Muitas das obras estão sendo apresentadas no Brasil pela primeira vez. Pertencem aos acervos do Museu Nacional de Arte da Catalunha, Museu do Templo Expiatório da Sagrada Família e da Fundação Catalunya-La Pedrera.

Um encontro singular

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Para o curador geral do Instituto Tomie Ohtake, Paulo Miyada, a exposição reconstitui a vida, a obra e o pensamento de Gaudí. “O público tem a oportunidade de conhecer os detalhes dos projetos do mestre e, ao mesmo tempo, reconstituir a sua história através das pinturas, esculturas e do design do Modernismo catalão”, explica. Miyada, que também é arquiteto, graduado e pós-graduado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, considera a mostra um encontro singular com o mestre. “A exposição abre o foco integrando as obras de Gaudí em um contexto social, econômico e também nos modos de fazer e viver. O espectador vai observar a inventividade e a sofisticação das suas formas visuais.”
Miyada chama a atenção para as referências da natureza que o arquiteto propõe em seus projetos. “Ele busca o orgânico e instaura uma estética moderna única que marcou Barcelona. É interessante porque a cidade estava se transformando radicalmente. A catedral Sagrada Família surge em um momento de transformação.”
Para o historiador graduado pela USP Theo Monteiro Farias, que integra a equipe de curadoria do Instituto Tomie Ohtake, a exposição situa o espectador no tempo em que a burguesia chega no auge, financiando os artistas e artesãos. “Através dos detalhes do mobiliário e das cadeiras projetadas por Gaudí e outros designers é possível observar as mobílias das casas da burguesia catalã.”
Antoni Gaudí nasceu no dia 25 de junho de 1852, em Reus. “Reconstituir a vida e o seu pensamento tem sido difícil mesmo tendo vivido na eclosão da imprensa escrita, dos jornais e da edição de tratados de manuais de diversas disciplinas”, pondera o professor Ramis. “Gaudí não publicou em nenhum meio existente na época. Não se deixava fotografar e, para dificultar ainda mais, seu estúdio pegou fogo, de modo que desapareceu qualquer testemunho escrito que tenha deixado.”
Apesar de sempre ter se negado a se expor em público, os paulistanos podem observar os detalhes de sua arquitetura em modelos tridimensionais. A Sagrada Família aparece em diversos ângulos, desde as primeiras maquetes. “Gaudí trabalhou durante 43 anos nesse projeto”, esclarece Jordi Fauli, diretor e coordenador atual das obras do templo. “Uma arquitetura que ele concebeu para ser continuada no futuro e que seria a consequência e o apogeu de sua trajetória como arquiteto.”
O arquiteto dedicou seus últimos quinze anos à construção do templo católico, que havia sido suspensa em 1936 durante a Guerra Civil Espanhola, quando várias maquetes e desenhos foram destruídos. Morreu aos 73 anos, atropelado na frente da Sagrada Família. A expectativa é de que a construção de Gaudí seja concluída em 2026, no centenário de sua morte.

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00_zeroA exposição Gaudí: Barcelona, 1900 fica em cartaz até 5 de fevereiro de 2017, de terça-feira a domingo, das 11h às 20h, no Instituto Tomie Ohtake (Rua Coropés, 88, Pinheiros, em São Paulo). Ingressos: R$ 12,00 (às terças-feiras a entrada é gratuita mediante retirada de senhas na bilheteria). Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 2245-1900.

Ouça a seguir a entrevista da curadora do Instituto Tomie Ohtake, Priscila Gomes, sobre a exposição Gaudí: Barcelona, 1900, à Rádio USP

Programa “Via Sampa”, da Rádio USP, aborda a exposição Gaudí – Barcelona, 1900

 

 


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