Materiais educativos on-line exploram a Casa de Dona Yayá

Destinados ao ensino fundamental e médio, recursos estão no site do Centro de Preservação Cultural da USP

 01/06/2021 - Publicado há 3 anos
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A Casa de Dona Yayá, no bairro da Bela Vista, em São Paulo – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Solário, paredes com cores claras, janelas com fechaduras que se voltam para fora e banheiro com olho mágico para vigilância. Esses e outros recursos compõem a Casa de Dona Yayá, antiga residência da aristocrata Sebastiana de Melo Freire (1887-1961), a Dona Yayá, localizada no bairro da Bela Vista, o popular Bixiga, em São Paulo. Testemunha de mudanças históricas e urbanísticas ocorridas na cidade ao longo de décadas, a casa é administrada atualmente pelo Centro de Preservação Cultural (CPC) da USP, que se dedica a preservar e a divulgar esse patrimônio histórico.

Para tornar mais conhecida a Casa de Dona Yayá – tombada como patrimônio histórico -, o CPC acaba de disponibilizar na internet uma série de materiais educativos que têm como tema a vida de Dona Yayá, a sua antiga residência e as transformações ocorridas no seu entorno. Destinados principalmente a professores do ensino fundamental e médio, os materiais estão disponíveis gratuitamente no site do CPC. A iniciativa fez parte das comemorações da 19ª Semana de Museus, que ocorreu de 17 a 23 de maio.

Dona Yayá pertencia a uma aristocrática família paulista. Em 1919, começou a apresentar sinais de desequilíbrio emocional. Após um período internada em um hospital psiquiátrico, seu tutor e parentes decidiram seguir a orientação dos médicos de continuar o tratamento em casa. Em 1921, a família adquiriu uma casa na Rua Major Diogo – a atual Casa de Dona Yayá – para seu tratamento. Ali ela permaneceu até o fim da vida, 40 anos depois.

A diretora do CPC, professora Martha Marandino, destaca que Dona Yayá é tema presente tanto na pesquisa acadêmica como no imaginário da população em função das diversas histórias que circulam sobre sua vida – algumas sem nenhum fundamento. Por meio da elaboração dos materiais educativos, o CPC procura trazer à tona aspectos da história de Dona Yayá que podem mostrar o seu papel de mulher à frente do seu tempo, da sua riqueza e da sua doença, segundo Martha.

Atividade do evento Férias na Yayá, realizado em janeiro de 2020 – Foto: Divulgação/CPC-USP

Os materiais educativos à disposição na internet incluem pranchas e pôsteres educativos compostos de mapas e fotos antigas da cidade de São Paulo e fotografias de Dona Yayá, de seus parentes e amigas. Acompanhados de textos, esses materiais ampliam a experiência da visita à Casa de Dona Yayá e podem até ser usados na sala de aula, como afirma a professora Simone Scifoni, vice-diretora do CPC.

Nos pôsteres há seis mapas do bairro da Bela Vista e de parte da área central da cidade, além de dois infográficos. O primeiro infográfico mostra os relacionamentos de Dona Yayá, seus parentes mais próximos e amigas. O segundo indica uma relação de médicos e curadores que acompanharam Yayá de 1920 até a sua morte.

Já os dois conjuntos de pranchas possuem imagens na frente e textos no verso, cada um relativo a uma temática: a vida de Yayá e o patrimônio cultural da Bela Vista. Além disso, o primeiro conjunto é formado por desenhos e colagens de crianças, feitos durante uma oficina realizada na Casa de Dona Yayá.

Os cards também são atrativos. De maneira lúdica, cada cor dos cards representa um aspecto da vida de Dona Yayá: os vermelhos indicam a infância, os azuis são as relações afetivas, os laranja sugerem a doença e os de cor ocre exibem o tratamento médico. O objetivo é aprofundar os conhecimentos trabalhados durante a visitação mediada à Casa de Dona Yayá, como é explicado no site do CPC. 

Martha Marandino comenta que, à frente da Casa da Dona Yayá, tem empreendido esforços para fortalecer a extensão por meio de um programa de educação patrimonial mais intenso e que possa dialogar mais com o público, a partir das demandas percebidas ao longo das ações educativas e culturais realizadas. “O CPC quer reforçar a relevância e a necessidade de que cada vez mais haja investimentos públicos para a pesquisa e a divulgação das referências culturais da cidade de São Paulo e do País”, destaca a professora.

Os materiais didáticos sobre a Casa de Dona Yayá produzidos pelo Centro de Preservação Cultural (CPC) da USP estão disponíveis gratuitamente no site do CPC.

Sebastiana de Melo Freire (1887-1961), a Dona Yayá – Foto: Divulgação/Cinusp

 

Casa de Dona Yayá conta a história da cidade

Nascida em Mogi das Cruzes (SP) em 1887, Sebastiana de Mello Freire, apelidada carinhosamente de Yayá, pertencia a uma família aristocrata paulista cafeeira. Sua trajetória foi marcada por acontecimentos traumáticos: as irmãs morreram jovens, seus pais faleceram quando ainda tinha 14 anos e seu irmão cometeu suicídio. Assim ela passou a viver com tutores e parentes. 

Em 1919, apresentando sinais de desequilíbrio emocional, foi internada num hospital psiquiátrico e, nos últimos 40 anos de vida, ficou isolada na sua residência, localizada na Rua Major Diogo (antigo número 37, hoje o número 353), no bairro da Bela Vista, em São Paulo. Isso gerou várias histórias no imaginário da população. Ao mesmo tempo em que é conhecida como “louca do Bixiga”, é vista também como vítima. 

Sem herdeiros, todos os seus bens, incluindo a casa, foram transferidos à Universidade de São Paulo, conforme dispunha lei estadual de 1957. Atualmente, na Casa de Dona Yayá – hoje sede do Centro de Preservação Cultural (CPC) da USP – são realizadas exposições, oficinas e manifestações artísticas.

A história da Casa de Dona Yayá reproduz o contexto histórico da cidade de São Paulo nas primeiras décadas do século 20. “E sua própria história expõe o papel da mulher na época, o que se esperava de um padrão de mulher, que Dona Yayá, de certa forma, rompeu porque ela não se adequou a esse papel da mulher essencialmente submissa, com marido e filhos”, comenta a professora Simone Scifoni, vice-diretora do CPC. Além disso, a trajetória de vida da aristocrata também ajuda a entender a história e o tratamento da doença mental no Brasil.

 


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