A memória está em pauta na questão da descolonização dos acervos

Giselle Beiguelman comenta a intervenção de Laercio Redondo, no Pavilhão Mies van der Rohe, que põe em xeque a história oficial do Modernismo e das cidades

 19/10/2020 - Publicado há 4 anos
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“A aspiração de descolonizar os acervos de museus, arquivos e bibliotecas parece até ser uma afirmação paradoxal, uma vez que há algo nativamente colonial nos sistemas de manutenção de registros naquilo que foi determinado sobre o que deveria ser esquecido e o que precisava ser mantido” – observa Giselle Beiguelman em sua coluna Ouvir Imagens, da Rádio USP (clique e ouça o player acima). “De modo geral, podemos dizer que arquivos e museus têm explorado as possibilidades de desenvolver novas infraestruturas, visando a oferecer multivocalidade aos seus acervos, por meio de recursos on-line, programas públicos e novas aquisições.”

A professora explica que, nesse contexto, há uma série de projetos institucionais que, muitas vezes, seguem parâmetros definidos pelas práticas artísticas contramonumentais. Um exemplo é o artista Laercio Redondo. “Ele é um dos nomes referenciais nesta discussão. Em seu último trabalho, uma intervenção no Pavilhão Mies van der Rohe, em Barcelona, ele trabalha com múltiplas linguagens como a fotografia e o audiotour no parque em que está o pavilhão.”

O ponto de partida do trabalho de Laercio Redondo é a história da construção e reconstrução do edifício, as lacunas temporais, aparências e rasuras que o atravessam. “Uma das questões centrais é o apagamento da história do pavilhão em si, que muitos visitantes ignoram não ser o original, mas uma reconstrução feita a partir de poucos registros do arquiteto, e a total supressão de sua parceira, a arquiteta e designer Lilly Reich, que concebeu com Mies van der Rohe o pavilhão e foi responsável por algumas de suas soluções mais importantes.”

O projeto tem um título interessante O mais simples é o mais difícil de fazer. “Lauro Redondo explora as opacidades do Modernismo, o apagamento das mulheres nos registros históricos e as formas pelas quais as cidades inventam suas tradições, entre outros temas de suma relevância na atualidade”, afirma. “Importante frisar que as escolhas estéticas do artista, que trabalhou com muitas estruturas translúcidas nesse projeto, criam uma espécie de meta-história que amarra com extremo rigor a proposta.”

Para conhecer e visitar o trabalho de Lauro Redondo, Lo Más Sensillo es lo Más Dificil de Hacer, via fotos, vídeos e textos críticos, acesse os links:

https://www.metalocus.es/es/noticias/planteando-cuestiones-de-memoria-lo-mas-sencillo-es-lo-mas-dificil-de-hacer-de-laercio-redondo

http://vimeo.com/467126989

 


Ouvir Imagens 
A coluna Ouvir Imagens, com a professora Gisele Beiguelman, vai ao ar quinzenalmente, segunda-feira às 8h, na Rádio  USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e  TV USP.

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