Cartas de Mário de Andrade são tema de evento on-line

Especialistas vão discutir a correspondência do escritor nesta quinta-feira, dia 29, às 14 horas, pela internet

 28/10/2020 - Publicado há 3 anos
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O escritor Mário de Andrade, um dos pioneiros do Modernismo no Brasil – Fotomontagem: Vinicius Vieira/Jornal da USP

O Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP promoverá nesta quinta-feira, dia 29, às 14 horas, o encontro Ao pé da Letra: Mário de Andrade na Epistolografia Modernista, com transmissão ao vivo em sua página no Facebook. No evento, as correspondências de Mário de Andrade serão debatidas por professores especializados na obra do escritor modernista. A mediação será feita pela professora Flávia Camargo Toni, do IEB. O encontro é um dos IEBnários, série de seminários on-line gratuitos promovida pelo instituto.

O evento contará com a presença de Telê Ancona Lopez, ex-curadora do Arquivo Mário de Andrade do IEB, Marcos Antonio de Moraes, pesquisador da epistolografia modernista, e Tatiana Longo Figueiredo, especialista em organização de arquivos, principalmente da obra de Mário de Andrade.

A professora Flávia Toni, do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP, será a mediadora do encontro – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Flávia Toni conta que Mário de Andrade foi o primeiro autor a ter sua coleção de cartas recebida e catalogada pelo IEB, no final dos anos 60. As cópias das 7.574 correspondências enviadas e recebidas pelo escritor estão organizadas em ordem alfabética e separadas por remetentes, podendo ser consultadas no site do instituto. A professora explica que Mário mantinha uma rede de correspondências ampla, pois enxergava as cartas como ferramentas de divulgação do Modernismo. Além do acervo Mário de Andrade, há cerca de 550 correspondências do autor em outros fundos e coleções do IEB, como nos acervos de Anita Malfatti, Antonio Candido e Tarsila do Amaral.

Segundo Flávia, a epistolografia é relevante para a obra de Mário de Andrade porque as cartas desempenhavam um papel fundamental para a comunicação durante o período modernista no Brasil. “Com o fim da Primeira Guerra, o Correio e os meios de transporte tornaram-se mais rápidos, e os homens do Modernismo escreviam muitas cartas, estabeleciam muitas conexões. A carta era fundamental porque permitia que eles trocassem ideias com pessoas que estavam muito longe, principalmente em um país tão grande como o Brasil”, explica. 

A professora ainda ressalta que o Correio também facilitava a distribuição de jornais e revistas, em que os escritores publicavam seus textos, atribuindo grande importância ao periodismo. “Fazer revista e jornal era novidade para aqueles homens, que acabam se sentindo muito potentes, atualizados e modernos.” A rapidez do jornalismo era um contraponto à produção de livros, com a qual os autores já estavam acostumados e que demandava mais tempo.

Flávia explica que, em termos de volume de cartas, o principal interlocutor de Mário de Andrade foi o modernista Manuel Bandeira, autor do poema que abriu a Semana de Arte Moderna de 1922, Os Sapos. Entre os destinatários,  encontram-se nomes como Carlos Drummond de Andrade, Luciano Gallet e Villa-Lobos. “O volume de cartas depende um pouco do movimento de reciprocidade do interlocutor. O Manuel Bandeira, por exemplo, escrevia de volta, mas o Villa-Lobos nem tanto”, afirma Flávia.

A temática e o grau de intimidade das cartas de Mário de Andrade também dependiam de seu destinatário, mas a multiplicidade de temas era recorrente. Flávia diz que “os jovens cultos do Modernismo eram polígrafos, eles escreviam sobre cinema, artes plásticas, música e literatura. Naturalmente, um interlocutor preparado, como Manuel Bandeira, também respondia sobre todas essas coisas. Era raro eles falarem de uma coisa só”.

A professora pontua que as correspondências revelam o compartilhamento de ideias e conhecimentos em uma época anterior às redes sociais. Outra característica importante do gênero é seu caráter revelador em relação à história. Como a troca de cartas desenrolou-se ao longo dos anos, é possível acompanhar em seus conteúdos expressões do contexto histórico brasileiro, além de eventos específicos da vida do autor. Flávia opina: “As cartas são um prato cheio para quem quer entender Mário de Andrade”.

O evento Ao pé da Letra: Mário de Andrade na Epistolografia Modernista será realizado nesta quinta-feira, dia 29, às 14 horas, na página do  Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) no Facebook. Grátis. Não é necessário fazer inscrição.

As edições anteriores do ciclo de palestras IEBnário, do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP, estão disponíveis no site do instituto.


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