Em uma década, houve redução de 26% nos crimes de homicídio no Estado de São Paulo, segundo dados oficiais da Secretaria de Segurança Pública (SSP) e do IBGE. Quanto aos chamados crimes contra o patrimônio a redução também foi significativa, de 21,6% nos roubos, de 19,3% nos furtos e de 12,8% em furto e roubo de veículos.
O estudo é resultado da comparação entre as ocorrências de 2010 com as verificadas em 2019 e acaba de ser publicado pelo Boletim Criminalidade, elaborado pelo Centro de Pesquisa em Economia Regional (Ceper), da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP.
Os dados, porém, trazem ressalvas. Não foram contabilizadas as mortes ocorridas nos confrontos com a polícia, mas apenas os homicídios dolosos. E também não foram consideradas as causas da criminalidade. O professor Luciano Nakabashi, um dos coordenadores do estudo, diz, no entanto, que os crimes estão diretamente relacionados ao avanço do desenvolvimento econômico pelos principais eixos rodoviários do Estado.
Nakabashi cita a Via Dutra, que liga São Paulo ao Rio de Janeiro e passa pelo Vale do Paraíba, e as rodovias Anhanguera, Castelo Branco e Marechal Rondon como principais canais de interiorização do crime.
Ao tentar analisar as causas dessa redução, o professor Cláudio do Prado Amaral, da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto (FDRP) da USP, descarta a possibilidade de reformas na legislação penal. Para Amaral, aumentar a pena não justifica a queda da violência, muito embora tenha um certo fator inibitório da prática do crime, mas não nessas proporções.
A professora Marina Rezende Bazon, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP e especialista no assunto, aponta outra questão. Para ela, os dados oficiais podem não traduzir a realidade. “Muitas denúncias de roubos e furtos deixam de ser feitas porque a população não acredita nas instituições, na polícia, na Justiça,” explica.
A professora relaciona os crimes de homicídios às desigualdades sociais. E lamenta que o estudo não aponte detalhes como os tipos de homicídios. “Eu não acredito que os crimes de feminicídio tenham diminuído,” afirma. Para ela, a queda oficial da criminalidade apontada no estudo revela em parte que houve uma diminuição da guerra entre grupos criminosos rivais.
Ouça no player abaixo a íntegra das entrevistas de Luciano Nakabashi, Cláudio do Prado Amaral e Marina Rezende Bazon ao Jornal da USP no Ar, Edição Regional.