Artigo analisa as controvérsias da medicina antienvelhecimento

Defendida por uns e criticada por outros, a medicina anti-aging propõe várias práticas contra o declínio do corpo

 27/11/2019 - Publicado há 5 anos

Envelhecer é o processo natural pelo qual todos passam, mas muitas pessoas não aceitam o envelhecimento quando a mente ainda está jovem e a pessoa ainda tem muitos projetos para realizar. A medicina anti-aging (antienvelhecimento) propõe uma série de práticas contra o declínio do corpo, defendida por alguns e criticada por outros. O artigo da Revista de Antropologia, de autoria da pesquisadora Fernanda dos Reis Rougemont, analisa as controvérsias do desenvolvimento da medicina anti-aging no Brasil, explorando as mudanças do significado de envelhecer, considerando as transformações da abordagem médica e destacando perspectivas opostas entre os profissionais praticantes da medicina anti-aging e os médicos que se respaldam pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).

O estudo foi realizado com 14 médicos praticantes de medicina anti-aging no Brasil e seis médicos contrários a essa abordagem, seguindo as normas estabelecidas pela Câmara Técnica de Geriatria do Conselho Federal de Medicina (CFM).

Nas sociedades ocidentais contemporâneas, é preciso levar em conta o contraste entre o indivíduo como ser biológico e ser social, situação na qual surgem os principais conflitos quando a questão em pauta é o envelhecimento. Com o aumento da longevidade, busca-se considerar a “velhice” como “um processo vivenciado como natural, inevitável e que se contrapõe à singularidade moral da pessoa“.

Nas sociedades ocidentais contemporâneas, é preciso levar em conta o contraste entre o indivíduo como ser biológico e ser social – Foto: Pixabay

O artigo aponta algumas controvérsias da medicina anti-aging no Brasil. Se a Academia Brasileira de Medicina Antienvelhecimento (ABMAE) incentiva uma medicina inovadora, pois “investe na possibilidade de controlar a decadência física associada ao envelhecimento“, a ABMAE sofre oposição do Conselho Federal de Medicina (CFM), órgão responsável pela regulação da atividade médica no País.

O objetivo da medicina antienvelhecimento é oferecer outras alternativas para um dia a dia estressante, vida sedentária e alimentação fastfood, visando a uma vida e a um “envelhecimento saudável”. A pesquisadora enfatiza que o envelhecimento é uma fase normal da vida e não uma doença. Dessa maneira, o artigo destaca que a medicina anti-aging tenta contribuir para um “longo processo de manutenção das condições de saúde“. A medicina antienvelhecimento incorpora as formas medicinais e filosofias não ocidentais, tais como a Ayurveda, a Medicina Tradicional Chinesa e a meditação, no intuito de proporcionar o equilíbrio das emoções. A “medicina integrativa” propõe a união mente, corpo e espírito. A chamada “medicina do futuro” propõe mudanças no meio ambiente, na política, na alimentação, na economia, na família e no trabalho, mas não promete “juventude eterna ou volta no tempo”. 

O artigo destaca que o “envelhecimento ativo” leva em conta que o corpo é perecível, porém, sem esquecer que envelhecer não significa definhar. É saudável prevenir doenças, sem associar a velhice como fase de perdas, depressão, solidão e incapacidades, conceitos fabricados pelas “sociedades modernas capitalistas industrializadas“. A doença precisa ser tratada do ponto de vista holístico ー é a pessoa como um todo que deve ser tratada. Enfrentar o declínio físico é uma forma de lidar com a dimensão moral da pessoa, e a narrativa do cuidado com a saúde é parte disso. 

Artigo

ROUGEMONT, F. Medicina Anti-aging no Brasil. Revista de Antropologia, São Paulo, v. 62, n. 2, p. 403 – 431, 2019. ISSN: 2179-0892. DOI: https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2019.161077. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/ra/article/view/161077. Acesso em: 08 nov. 2019.

Fernanda dos Reis Rougemont Doutora em Antropologia Cultural e mestra em Sociologia e Antropologia Cultural pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA/UFRJ), bacharel e licenciada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, e, atualmente, pesquisadora em pós-doutorado no Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais (IVIG/UFRJ).

Margareth Artur / Portal de Revistas USP 


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