Informações disponíveis não asseguram rigor de Enem digital

Ocimar Munhoz explica que para a adoção do meio eletrônico seria necessário planejar um novo protocolo de segurança exclusivamente para a aplicação digital

 24/07/2019 - Publicado há 5 anos
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O Ministério da Educação (MEC) anunciou neste mês a transição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para a versão digital. A intenção é abandonar as provas de papel até 2026. Em 2020, ocorrerão as primeiras aplicações. Uma fase piloto optativa prevista para 50 mil candidatos. Para os estudantes já inscritos no Enem 2019 nada muda. A autarquia subordinada ao MEC e responsável pela elaboração da prova, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), anunciou que a próxima edição do teste teve 6.384.957 inscrições, 5.095.308 confirmadas mediante pagamento da taxa.

Para o professor Ocimar Munhoz, da Faculdade de Educação (FE) e coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Avaliação da unidade, o ministério ainda não disponibiliza informações que garantam a segurança e o rigor da prova. “Com a adoção do meio digital, a prova pode se tornar mais fácil ou difícil para certos candidatos. Há estudos apontando a interferência da mídia sobre a capacidade de expressão de proficiência das pessoas”, declara ao Jornal da USP no Ar.

Munhoz lembra que hoje o Enem é a principal forma de acesso a grande parte das instituições públicas de ensino superior. “O exame distribui bens públicos e parcialmente públicos. Tantos as vagas disputadíssimas das universidades federais, estaduais e municipais, como as bolsas de Prouni- Programa Universidade para Todos e financiamentos via Fies  Financiamento Estudantil. Por isso, deve seguir o princípio da justiça social”, esclarece.

Candidatos iniciam as provas, em papel – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

“O Inep já pesquisava sobre a viabilidade de uma prova digital. Eu e a FE contribuímos, inclusive. Porém, a aplicação desse método demanda muito mais cuidado para garantir a equanimidade”, explica o pedagogo. Ele argumenta que o uso dedicado às plataformas digitais tem diferentes resultados. “Fazer uma prova é uma coisa e acessar redes sociais é outra. A primeira ação requer uma atividade sistemática prolongada por horas. E qual porcentagem das escolas brasileiras tem computador para fins pedagógicos?”, questiona. Até 2018, o número de domicílios com acesso à internet era de 75% – 80% em meios urbanos e 41% em rurais -, segundo o IBGE. Uma expansão significativa, visto que em 2005 eram 12,6%, mas com uma abrangência longe de países desenvolvidos.

Outra dificuldade indicada por Munhoz é a segurança. “Na prova em papel podem acontecer fraudes. Mas a transição não as resolveria. São possíveis ações de hacker e vazamentos de informações, da mesma maneira. Em vista disso, seria necessário planejar um novo protocolo de segurança exclusivamente para a aplicação digital. E depois, acompanhá-la minuciosamente, acarretando custos”, informa. Outro gasto seria a criação de uma infraestrutura. Haveriam máquinas específicas para a atividade, como as urnas eletrônicas nas eleições? A possibilidade de disponibilizar o Enem por via remota complicaria ainda mais o processo. As experiências nesse sentido se deram para um número muito baixo de inscritos.

“Apesar do avanço tecnológico caminhar no sentido das provas digitais, precisa-se de estudos mais conclusivos para encaminhar esse tipo de procedimento. O MEC deveria estruturar mais a proposta antes de apresentá-la. A transição para as urnas eleitorais, que à época causou certo transtorno, não é um exemplo integral, porque é uma atividade que dura segundos e tem um caráter muito mais objetivo. O Enem é uma prova extensa e complexa”, expõe o educador.

O professor salienta que a responsabilidade pelo formato e qualidade da prova é de quem a oferece, e não de quem a faz e está em um momento decisivo da vida. O Inep divulga que os alunos poderão escolher entre o método digital e o tradicional. Caso haja problemas, se darão reaplicações, como já é feito.


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