Zika: mais problemas e uma possibilidade de proteger o cérebro

Proteção contra o Zika: pesquisadores entrevistados no simpósio “Inflamma II” desvendaram como o vírus promove a morte de neurônios por um efeito em cascata. Melhor ainda: conseguiram barrar esse efeito e proteger o cérebro de camundongos com um medicamento que é seguro até para grávidas. O simpósio foi realizado pelo Centro de Pesquisas em Doenças Inflamatórias (CRID) da USP em Ribeirão Preto.

 30/06/2016 - Publicado há 8 anos     Atualizado: 18/10/2019 as 11:34
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A microcefalia é a ponta do iceberg – a consequência mais visível (e impactante) da infecção por vírus Zika.

Depois de meses de atendimento a pacientes, neurologistas relatam outros casos de problemas nos nervos e no cérebro relacionados à doença, tanto em adultos quanto em bebês. Por isso, a Organização Mundial da Saúde, em reunião com especialistas, atualizou a definição desses casos para “Síndrome Congênita do Vírus Zika”.

Novas pesquisas

Os cientistas Mauro Teixeira, Vivian Costa e Juliana del Sarto, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), estudam camundongos infectados por Zika. Eles pesquisaram parte do mecanismo que promove uma morte exagerada de neurônios e encontraram uma forma de proteger o cérebro desses animais com um medicamento já aprovado para uso em pessoas (seguro até para grávidas).

A entrevista foi realizada durante o II Simpósio Internacional de Doenças Inflamatórias, o Inflamma II, realizado pelo Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (CRID),  da USP em Ribeirão Preto.

Morte em cascata

Segundo os resultados das investigações na UFMG, quando uma célula neuronal infectada com o vírus morre, ela libera substâncias que, em grande quantidade, podem ser mais tóxicas aos neurônios vizinhos que o próprio vírus.

Mauro conta que um dos principais neuromediadores liberados pelo neurônio infectado é o glutamato. Uma maneira de evitar a morte em cascata é impedir que o glutamato se ligue ao seu receptor na outra célula. “É a noção de chave e fechadura: você sai tampando as fechaduras dos outros neurônios”, compara.

Infecção x doença

O grupo fala também da importância de desenvolver terapias com medicamentos antivirais – que agem diretamente no ciclo de vida do vírus – e neuroprotetores que possam “atacar” o dano causado pelo vírus Zika.

A diferença entre os dois tipos de terapia explicita a distinção entre o conceito de infecção e doença. A infecção é conduzida pelo vírus durante sua presença no organismo. Já a doença é todo o estado alterado da pessoa, que pode incluir sintomas causados pelo próprio corpo ao reagir à infecção, como febre e até a morte exagerada de neurônios.

Um modelo 3D para o Zika

O vírus Zika foi ilustrado em 3 dimensões pelo Estúdio Visual Science e pode ser visualizado no vídeo abaixo. Este é o primeiro modelo 3D cientificamente preciso do vírus em resolução atômica. O modelo é baseado nas publicações sobre a estrutura do Zika e de outros vírus como o Dengue, o vírus do Oeste do Nilo e da Febre Amarela.

A scientifically accurate model of the Zika virus. Visit visual-science.com/zika from Visual Science on Vimeo.


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