Pesquisa reconstitui história dos ladrilhos hidráulicos

Aplicada em ambientes internos e externos, arte de ladrilhar era utilizada desde o século 18

 16/04/2019 - Publicado há 5 anos

Azulejo de faiança, com revestimento de chumbo – Foto: British Museum / CC BY-NC-SA 4.0

A arte de ladrilhar e a trajetória histórica deste material largamente empregado na construção civil desde o século 18 foi tema de artigo da revista Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material.  Em São Paulo e no Rio de Janeiro, o revestimento das calçadas com ladrilhos hidráulicos foi utilizado em residências, comércios e espaços públicos, como o Teatro São Pedro, Casa da Marquesa de Santos, Bolsa Oficial do Café, em Santos, Paróquia Nossa Senhora do Brasil e o prédio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

No artigo A produção de ladrilho e o ofício de ladrilhar: método de produção de ladrilhos do século XVIII aos nossos dias, os autores relatam que o Iphan considera o ladrilho hidráulico um bem material, natural  e imóvel. Que possui significado e importância artística, cultural, religiosa, documental e estética para a sociedade, e que por estas razões precisa ser preservado.  Segundo o texto, até os dias de hoje, o ladrilho representa não só o encantamento pelo antigo, mas a lembrança do nostálgico. “Revela brasões familiares, armas, selos, casas de nobreza, castas clericais, preces ou trechos bíblicos, admirados pela beleza e pela durabilidade que desafiam o tempo”, descreve.

Vista lateral de ladrilho hidráulico do Palácio da Justiça Federal no Rio de Janeiro (2010) –
Foto: Arquivo pessoal

Sobre o histórico do material, o artigo informa que eles eram feitos a partir de uma mistura de calcário e argila que resultava em um pó denominado “cimento Portland”, em virtude de apresentar cor e características de uma pedra encontrada na Ilha de Portland, Inglaterra. De acordo com o manual da Associação Brasileira de Cimento Portland, o “ladrilho hidráulico é uma placa de concreto de alta resistência ao desgaste para acabamentos de paredes e pisos internos e externos, indicado para passeios públicos, praças, etc.” Apresentava qualidade de ser antiderrapante, o que facilitava a mobilidade das pessoas mesmo quando os espaços estavam molhados.

Produzidos de forma totalmente artesanal, os ladrilhos eram feitos um a um, a partir de uma combinação de pó de mármore, cimento e corantes. Colocadas em forma de ferro ou de bronze, as peças mais antigas eram mais resistentes que as atuais, feitas em forma de latão. Tanto no Brasil quanto na Europa, eram criados para decorar e revestir os pisos e as paredes, revelando “arte e religiosidade, estilo e modernidade”. Com a Revolução Industrial, a “expansão do comércio mundial e de novas doutrinas sociais e econômicas”, surgem os ladrilhos em sintonia com “o modo de viver da sociedade burguesa, especialmente ligado à arte decorativa”, descreve o artigo.

Fabricação de ladrilho hidráulico na Fábrica de Ladrilho – Fotos: Arquivo pessoal

O processo detalhado da fabricação dos ladrilhos hidráulicos ainda é mantido em segredo pelos familiares-fabricantes, pois é ofício que passa de pai para filho e resiste às inovações tecnológicas. “Atravessa o tempo e seu maior valor é o legado estético, histórico, científico, social e espiritual, atributos intrínsecos à memória coletiva e que foram declarados bem culturais que precisam ser preservados”, afirmam os autores.

Artigo
LAMAS, M.; LONGO, O; SOUZA, V. A produção de ladrilho e o ofício de ladrilhar: método de produção de ladrilhos do século XVIII aos nossos dias. Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material, São Paulo, v. 26, e09, p. 01- 22, 2018. ISSN: 10.1590. DOI: https://doi.org/10.1590/1982-02672018v26e09. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/anaismp/article/view/148057. Acesso em: 25 fev. 2019.

Contatos
Márcia Lopes Lamas – Bolsista da Universidade Federal Fluminense/ Niterói, RJ, email marciallamas@gmail.com; Orlando Celso Longo – Professor da Universidade Federal Fluminense/ Niterói, email orlando-longo@gmail.com; Vicente Custódio de Souza – Professor da Universidade Federal Fluminense/ Niterói, email vcmdesouza@hotmail.com .

Margareth Artur / Portal de Revistas USP

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