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O paulista Rubens Borba de Moraes (1899-1986) era um homem multifacetado. Pesquisador, historiador, bibliotecário – foi diretor da Biblioteca das Nações Unidas em Nova York –, participante ativo do movimento modernista, só não participou da Semana de Arte Moderna de 1922 ao lado dos amigos Mário e Oswald de Andrade por estar doente. Mas o que ficou para o universo da cultura, seu grande epíteto, foi que Rubens Borba de Moraes era “bibliófilo”. Ou seja, mais do que um colecionador, o intelectual que também foi professor da Universidade de Brasília (UnB) era um homem que amava os livros.
Dessa sua paixão nasceu talvez a sua obra mais representativa, aquela que está definitivamente associada a seu nome: O bibliófilo aprendiz, originalmente publicado em 1965 pela então poderosa Companhia Editora Nacional.

Trabalho essencial para aqueles que querem mais do que livros sendo cobertos de poeira nas estantes, esse livro é uma espécie de manual de como achar as joias raras perdidas em prateleiras de alfarrabistas e de como conservá-las, de como se apaixonar para nunca mais por primeiras edições. Trata-se de um livro de bibliófilo para bibliófilos, aprendizes ou não. Como afirmou ele no prefácio à edição original, “não perca tempo em ler essa prosa fiada de um velho bibliófilo quem não gosta de conversar sobre livros raros, quem não dá a menor importância a uma primeira edição, quem não pretende colecionar”. Talvez um pouco ranheta, a frase faz todo o sentido.
Como faz todo o sentido que O bibliófilo aprendiz tenha acabado de ganhar sua quinta reedição, dessa vez pela Publicações BBM, braço editorial da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM), justamente ela que leva o nome do maior bibliófilo que o Brasil já teve – e, não à toa, grande amigo de Borba de Moraes.
A edição – muito bem cuidada, a quatro cores e em bela capa dura vermelha – tem apresentação do editor (e também bibliófilo, claro) Cláudio Giordano. É Giordano, inclusive, que tira um pouco a ranhetice da frase de Borba de Moraes sobre possíveis leitores de seu livro e passa a atrair outros. “Recomendo encarecidamente que além dos aficionados ao livro, não percam a oportunidade de percorrer essas páginas sobretudo aqueles para os quais o livro não passa de objeto de leitura esporádica”, escreve o dublê de editor e apaixonado por livros. “Pois, o que se tem nele não é a apologia do livro feita por um colecionador obcecado, querendo provar que escolheu o melhor lazer do mundo e buscando por isso aliciar novos colecionadores e futuros bibliófilos”, continua ele, para concluir: “Em linguagem despojada, bem humorada, discorre o autor sobre a arte de colecionar como uma opção, entre muitas, de lazer divertido e apaixonante”.








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É uma bela e importante sugestão, ainda mais nesse mundo de realidade e amizades virtuais, no qual o efêmero e o transitório estão a um toque na tela de LED, mas nunca ao alcance das mãos. A reedição de O bibliófilo aprendiz possibilita, para quem quiser, essa reconciliação com dois elementos que pareciam estar fadados a museus, mas estão cada vez mais presentes e importantes na vida de todos: o papel e o livro. E sua combinação mais luxuosa, o livro em papel – com toda a textura, cheiros e sensações que um objeto assim pode transbordar.
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