cxc
.
Há cem anos, num cenário de altos índices de propagação de doenças e de mortalidade infantil, foi criado o Laboratório de Higiene na capital paulista – instituição que mudaria de sede e de nome até se tornar a Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP. Precursora em inúmeras áreas, a unidade tem forte relação com a comunidade local e produz conhecimento para contribuir no combate a doenças e na formulação de políticas públicas.
Sua relevância para a saúde nacional é a base de uma pesquisa desenvolvida por Mariana de Carvalho Dolci – historiadora e doutoranda em Saúde Pública pela FSP. Ela analisou os acontecimentos relacionados ao instituto no último século, como o pioneirismo nacional do curso de Nutrição, a contenção de mazelas enfrentadas pela capital e a direta participação na gestão da saúde paulista.
As cidades, ao congregarem populações, tornam-se locais mais propícios à propagação de doenças infecciosas. Há cem anos, São Paulo já concentrava instituições de ensino e pesquisa, favorecendo o desenvolvimento de estudos para enfrentamento destes problemas. Estas razões levaram à fundação, no início do século 20, do que hoje é a Faculdade de Saúde Pública”, explica Mariana.
O primeiro curso oferecido pela FSP foi o de formação para sanitaristas. Na época, a maior preocupação era o controle da febre amarela. Depois, surgiram aulas para constituição de educadores sanitários e capacitação de professores primários. Em 1939, a faculdade criou o primeiro curso de graduação em Nutrição do Brasil — considerado um dos melhores do País até hoje. Em 2012, foi implantado um curso de graduação específico em Saúde Pública.
.
O impacto social
Ao longo de seus cem anos de história, o desenvolvimento de políticas, planos e programas de qualidade ambiental e de vida realizados pela Faculdade de Saúde Pública esteve intimamente ligado ao cotidiano paulista. Desde 1970, o programa de pós-graduação deu origem a mais de 3 mil teses — 600 delas específicas do ramo da saúde ambiental.
Frutos de programas e estudos relacionados à FSP, Mariana Dolci destaca algumas importantes contribuições: fluoretação da água para a diminuição da incidência de cáries; iodação do sal de cozinha para prevenir o bócio; treinamento e capacitação de profissionais de saúde para controle da tuberculose; novas técnicas de diagnóstico laboratorial de DSTs e hanseníase; elucidação da dinâmica de doenças transmitidas por insetos vetores em áreas endêmicas, de forma a contribuir com sua eliminação; além de estudos sobre doenças não transmissíveis, como câncer e problemas cardiovasculares, e seus potenciais fatores de risco decorrentes do aumento da longevidade da população.
.
Em 1982, Zilda Arns, ex-aluna da Faculdade de Saúde Pública, foi responsável por implantar as ações da Pastoral da Criança em todos os municípios brasileiros. A intervenção da médica resultou diretamente em uma redução da mortalidade infantil nacional. Para Mariana, o exemplo de Zilda dá uma dimensão da importância da faculdade para o País. A pesquisadora também lembra que vários profissionais formados pela instituição estão envolvidos diretamente na constituição de órgãos públicos importantes, como a Sabesp e a Cetesb.
A professora do Departamento de Saúde Ambiental e ex-diretora da FSP, Helena Ribeiro, destaca que muitas áreas são abrangidas pela instituição: nutrição, saneamento ambiental, odontologia e administração sanitária, planejamento em saúde pública, controle de doenças infecciosas, saúde ocupacional, entre outras. “Mas, talvez, a grande mudança relacionada às transformações estruturais da sociedade e de estudos desenvolvidos na área que merece ser apontada seja a redução do impacto da mortalidade por doenças transmissíveis”, aponta.
.
Parte das contribuições da FSP está relatada em livro lançado em 2017, Medicina e Contextos de Exceção: Histórias, Tensões e Continuidades. Nele consta a pesquisa Memória do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo (USP): os anos 1969 a 1982, de autoria da professora Maria do Rosário Dias de Oliveira Latorre e das historiadoras Mariana de Carvalho Dolci e Mariana Carvalho Nico de Rezende.
A obra está disponível gratuitamente no site do Museu Histórico Prof. Carlos da Silva Lacaz da Faculdade de Medicina da USP.
cc
.
.
Leia mais em:
“Diálogos na USP” celebra os 100 anos da Faculdade de Saúde Pública
Faculdade de Saúde Pública à beira dos cem anos