Nos últimos 25 anos, a área ambiental tem se expandido. Seguindo tendências sociais e a busca pela resolução de alguns problemas econômicos, a população tem mirado para a manutenção do meio ambiente como um todo. Seja em esferas públicas, privadas ou no meio empreendedor, o anseio sustentável faz crescer a demanda por profissionais ligados ao ecossistema, como, por exemplo, os gestores ambientais.
Fundado em 2002, na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP em Piracicaba, o bacharelado em Gestão Ambiental foi o primeiro curso desse tipo no Brasil. A graduação visa a formar um profissional capacitado para atuar em áreas administrativas, desenvolvimentistas, organizacionais e projetistas referentes ao meio ambiente.
Três anos depois, em 2005, com a criação da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, o curso também passou a ser oferecido na capital. Sob a tutela do professor Waldir Mantovani, implementou-se um caráter multidisciplinar e o enfoque técnico-científico à Gestão Ambiental.
A EACH tornou-se responsável por formar profissionais voltados para áreas da ciência social e da natureza; a Esalq, gestores e administradores dos campos ambientais e da terra.
A multidisciplinaridade do campus Leste
“A área ambiental depende de conhecimentos muito distintos vindos de diversos nichos diferentes”, comenta Andrea Cavicchioli, coordenador do curso de Gestão Ambiental na EACH. “É preciso ter uma visão do meio ambiente por distintos ângulos, seja o da química, biologia, geologia, antropologia, ciências humanas ou da relação homem-natureza, por exemplo.”
Com tantas esferas para avaliação de uma mesma circunstância, a graduação foi pensada para agregar profissionais que viessem dessas diferentes áreas. Segundo Cavicchioli, o objetivo é que o estudante adquira todos os conhecimentos necessários para futuramente ingressar em uma especialização ambiental.
“Por exemplo, para entendermos o tópico ‘agrotóxicos’ deve haver familiaridade com o lado físico da questão, que representa o que é tal substância e como ela se comporta. Há também uma relação com a legislação — permissões, regras e proibições para seu uso. Para finalizar, encontramos o lado social, referente aos problemas e razões que induzem à utilização de agrotóxicos, como as demandas econômicas”, explica o coordenador do curso.
Visando à devida interdisciplinaridade, o curso na EACH constitui-se em três grandes eixos: o das Ciências Exatas e Biológicas, o das Humanas Tradicionais e o do conjunto de disciplinas voltadas para Gestão — um núcleo obrigatório para a formação do aluno, tanto com conteúdos específicos quanto gerais.
Além da parte acadêmica, o caráter social que objetiva solucionar demandas da população local está presente na graduação. Assim como em todos os cursos da EACH, busca-se a formação cidadã do estudante, preenchendo lacunas de ensino e estabelecendo um olhar humano a partir de seu ingresso.
Outra metodologia usada na graduação é o Aprendizado Baseado em Problema (Problem Based Learning), no qual se questiona o aluno, apresentando um dilema, em busca da aquisição própria daquele conhecimento. Tal método foi adaptado para a Gestão Ambiental, aplicado na resolução de problemas ambientais específicos.
O caráter gestor do interior
No curso da USP em Piracicaba , 34 das 43 disciplinas presentes na grade obrigatória são voltadas diretamente à área de Ciências Ambientais, da Terra, Gestão e Administração. A graduação é focada em capacitar os alunos a estabelecer políticas públicas e atuar na manutenção de equipes durante a resolução de questões ambientais.
“É esperado do gestor ambiental, formado aqui na Esalq, que ele trabalhe na gerência, tome decisões visando à sustentabilidade e construa políticas públicas para minimizar o impacto do homem sobre o meio ambiente”, aponta Taciana Villela Savian, coordenadora do curso em Piracicaba. “Essas práticas envolvem o planejamento, a organização e a orientação de instituições, públicas e privadas, que se propõem a alcançar metas ambientais específicas.”
Mesmo com o foco administrativo, o curso da Esalq disponibiliza cerca de 50 disciplinas optativas aos futuros gestores. Com a oportunidade, os alunos podem expandir seus conhecimentos para as mais distintas áreas relacionadas ao meio ambiente.
“Em resumo, a graduação em Gestão Ambiental prega a relação harmônica entre homem e natureza. Desta forma,o profissional vai pensar o uso de recursos ambientais de forma sustentável, sem a promoção da degradação e esgotamento de biomas, independentemente do rumo escolhido na graduação”, completa Taciana.
Saindo da sala de aula
O potencial ambiental nacional e mundial serve como campo prático de atuação e estudo aos futuros gestores ambientais formados pela USP. No Brasil, a fauna, a flora e a exploração dos produtos naturais são ricos materiais de análise aos estudantes.
Aproveitando tal disponibilidade e variabilidade, professores e a administração da EACH organizam uma série de viagens de campo para integrar estudantes de Gestão Ambiental a prováveis locais de atuação.
“Neste ano, em uma tentativa de integrar melhor os conhecimentos adquiridos na graduação, fizemos um trabalho de campo no Vale do Jequitinhonha — localizado a 1.500 km de São Paulo. Foi uma viagem de dez dias, com 99 alunos e sete professores de diferentes disciplinas — geógrafos, geólogos, biólogos, docentes da área jurídica e um engenheiro agrônomo. Oportunidade de um estudo direto da realidade, uma grande aula com diversas áreas do conhecimento presentes simultaneamente”, comenta Cavicchioli. “É nesta direção que queremos seguir.”
Por sua vez, indo além do solo brasileiro, o curso da Esalq ficou conhecido por sua internacionalização. Nos últimos dois anos, cerca de 17 alunos saíram em intercâmbio — estudando dinâmicas e resoluções ambientais em diversas universidades pelo mundo. Até hoje, segundo Taciana, a graduação já enviou estudantes para Holanda, Bélgica, França, Portugal, Noruega, Estados Unidos e Costa Rica.
“Esses alunos saem para fazer pesquisas, desenvolver seus projetos, cursar disciplinas e estagiar em diversos laboratórios dessas faculdades internacionais. Quando voltam, além de uma grande bagagem pessoal, trazem todos esses conhecimentos adquiridos para dentro da Universidade, algo muito importante para a instituição”, explica Taciana.
De mesma forma, a Esalq recebe também diversos estudantes de universidades internacionais em busca do estudo de Gestão Ambiental e complemento de pesquisas no Brasil.
Áreas de atuação
Com a conclusão da graduação e o desenvolvimento de diversas habilidades durante os anos de curso, o gestor ambiental encontra um amplo campo de atuação no mercado.
Indo de setores públicos e privados à participação em ONGs ambientais, o recém-formado ganha espaço para trabalhar no planejamento, desenvolvimento e coordenação de projetos ambientais — que abrangem áreas como o reaproveitamento de resíduos sólidos, reciclagem, manejo hídrico, sustentabilidade, criação de relatórios, diagnósticos e certificações materiais que auxiliam na circulação de produtos no mercado, entre outras.
“Em tese, é esperado do gestor ambiental que ele trabalhe na gerência, tome decisões visando à sustentabilidade e faça políticas públicas para diminuir o impacto do homem sobre o ambiente”, explica Taciana.
O índice de empregabilidade é consideravelmente alto entre os alunos formados em Gestão Ambiental pela USP. Segundo dados levantados pela Esalq, 78% dos egressos estão exercendo alguma atividade profissional. Deste total, 82% estão atuando como gestores ambientais ou em áreas correlatas. Além disso, 73% dos formados conseguiram se inserir no mercado dentro dos primeiros seis meses após a conclusão do curso.
A área acadêmica também é muito atrativa aos gestores ambientais. Na capital, cerca de 49% dos alunos permanecem estudando, buscando desenvolver dissertações e teses. Os temas mais abordados são sustentabilidade, ciência ambiental, geografia e mudança social. No interior, a pós-graduação foi realizada por 56,2% dos formados. O objetivo é aprimorar os conhecimentos adquiridos durante o curso.