O assunto desta coluna é a devastação ambiental que se abateu sobre a região de Valência, na Espanha, muito semelhante à que ocorreu no Estado do Rio Grande do Sul no começo do ano. Nos dois casos, situações de chuva muito intensas não tiveram o devido respaldo dos respectivos governos locais, que num caso (o do RS) adotou medidas para reduzir a proteção ambiental e no outro (Valência) afrouxou a vigilância ambiental, o que acabou por gerar cobranças recíprocas posteriormente. A respeito disso, o professor Renato Janine Ribeiro diz o seguinte: “Nós podemos perceber que esses casos dão uma importante mensagem no tocante à ciência e no tocante ao que chamarei de ‘espírito da modernidade’. A ciência pode prever que vai haver uma devastação ambiental, pode avisar com algumas horas antes; para isso, o governo brasileiro criou há um pouco mais de dez anos o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais). São naturais, sim, mas você pode saber que vão acontecer, pode então tomar providências, pode colocar desde sirenes – como têm, se não me engano, em Petrópolis – até procurar tirar as pessoas das áreas de grande risco, construir muros de arrimo, enfim, há um conjunto de medidas que podem ser tomadas no momento do acidente, mas também você pode antever que existe risco na região”, diz o colunista. “Existir risco não quer dizer que vai acontecer hoje, amanhã ou depois de amanhã, ao contrário do que a previsão meteorológica diz, mas pode indicar que, sendo uma área de risco, nós devemos tomar medidas para isso, e infelizmente nos dois casos houve um descaso em relação à ciência, pelo qual depois pagam sobretudo os mais pobres, os mais vulneráveis, os que têm menos influência sobre os respectivos governos.”
Aqui Janine chama a atenção para o que acima referiu como espírito da modernidade, pois com a modernidade – bem diferente do que acontecia no passado – tornou-se possível planejar. “O planejamento é uma cria basicamente da Revolução Russa, o Estado soviético, recém-criado, criou o Ministério do Planejamento; por muito tempo foi comum chamar as economias socialistas de planificadas e as economias ocidentais de não planificadas. Tudo mudou depois da Segunda Guerra Mundial, quando muitos países, inclusive o Brasil, adotaram o Ministério do Planejamento, isso quer dizer que, pelo conhecimento, mais uma vez científico, você consegue pegar as variáveis que estão interferindo em alguma coisa e planejar; então nós podemos planejar para o país um aumento muito grande do transporte coletivo, nós sabemos que precisamos, então podemos planejar isso, podemos ver como a população está crescendo ou está estagnando ou diminuindo – são fenômenos todos que ocorreram nas últimas décadas e, em função disso, pensar em educação, saúde, economia, proteção ambiental e tudo mais. Esses são os fatores que permitem numa situação dessas você minorar danos, às vezes até eliminar os danos, e que faltaram no Rio Grande do Sul e em Valência; fica a lição”, conclui.
Ética e Política
A coluna Ética e Política, com o professor Renato Janine Ribeiro, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
.