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Com o objetivo de estimular o debate e a reflexão, a USP lança uma obra que trata de “questões complexas, e que exigem respostas corajosas, por vezes polêmicas”, como apontam os organizadores na apresentação de USP Novos Tempos, Novos Olhares, e-book recém-lançado no Portal de Livros Abertos.
Os professores Amâncio Jorge Oliveira (Instituto de Relações Internacionais), Ana Estela Haddad (Faculdade de Odontologia), Bruno Caramelli (Faculdade de Medicina, Hospital das Clínicas, Instituto do Coração), Luiz Fernando Ramos (Escola de Comunicação e Artes) e Marcílio Alves (Escola Politécnica) reuniram em 613 páginas artigos de especialistas dentro de três grandes áreas: Biológicas e Saúde; Ciências Exatas e Tecnológicas; e Artes, Humanidades e Ciências Sociais, cobrindo um amplo espectro do conhecimento. A publicação original é de 2022, da Annablume Editora, e pode ser baixada gratuitamente neste link.
Os 11 capítulos da publicação buscam responder várias questões: Como a pandemia tem afetado o ensino, a pesquisa e a vida acadêmica? Como as atividades de cultura e extensão podem ser ampliadas para romper este muro imaginário que por vezes separa a USP da sociedade? Como forjar uma relação transparente e saudável entre a USP e o mercado? Qual o papel das Fundações na USP do amanhã? Como garantir a sustentabilidade das universidades públicas? Como incentivar a carreira docente e a docência? E o movimento translacional do conhecimento? A estrutura de poder? As artes e a cultura? Assim como as perguntas, as respostas também são complexas. “A ideia que permeia este livro é a de estimular o debate, muito mais do que buscar o consenso”, explicam.
Como a pandemia afetou o ensino?
“A pandemia covid-19 provocou mudanças substanciais em todos os setores da sociedade contemporânea. O tempo dirá quais dessas mudanças ganharam status conjuntural e quais representaram alterações estruturais e de ciclo longo”. É sobre isso o capítulo de abertura do livro, A Universidade no Pós-Pandemia, que tem como objetivo examinar, em perspectiva internacional comparada, os impactos já observados da pandemia no campo do ensino superior mundial e, como base nesta comparação, apresentar cenários e tendências para uma universidade com as características da USP. Segundo os organizadores, são abordados temas como os impactos de tecnologias disruptivas no ensino, relação entre sociedade e universidade e internacionalização da universidade.
No artigo, A Educação Pós-Pandemia: As prioridades, o professor de filosofia e cientista político Renato Janine Ribeiro confessa que chamou sua atenção a quase total indiferença ante o custo psicológico, afetivo e emocional que a pandemia poderia causar. “Procurei, em várias ocasiões, destacar este aspecto, em especial na área de que sou mais próximo, justamente, a educação. Insisti neste ponto para audiências de educação e também empresariais, mas fiquei espantado ante a pouca relevância conferida ao tema, inclusive pelos institutos que procuram melhorar a educação básica, necessidade prioritária do Brasil. Falou-se e se fala muito dos conteúdos, ou melhor, das competências que os jovens não terão aprendido ou desenvolvido, mas bem pouco dos traumas que terão sofrido, eles, nós, todos”, afirma o autor, completando que é sobre esse não-dito seu texto.
Ainda sobre o tema, a médica infectologista e epidemiologista Cristiana Toscano (com residência e mestrado em doenças infecciosas e parasitárias pela USP) fala sobre A Universidade no Pós-Pandemia. A autora informa que as escolas foram fechadas precocemente em vários países, embora tenha sido recomendado, por inúmeras instituições de saúde e educação internacionais, que o fechamento dessas instituições deveria ser a última medida a ser implementada e a primeira a ser flexibilizada. “Estudo que mapeou as medidas de distanciamento social implementadas ao longo da pandemia no Brasil, por estado, relatou que após a identificação do primeiro caso de covid-19 no país no final de fevereiro de 2020, foi observado que entre 11 e 23/03/2020, todos os estados haviam implementado fechamento/suspensão de aulas”, relata, enumerando, baseada em fonte da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) alguns dos problemas dessa medida: aprendizagem interrompida, má nutrição, confusão e estresse para professores, pais despreparados para a educação à distância em casa, desafios na criação, manutenção e melhoria do ensino à distância, aumento das taxas de abandono, entre muitos outros.
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Acesso ao ensino superior, sustentabilidade financeira e desafios da desinformação
Entre outros grandes temas, também são abordadas as Mudanças no sistema de acesso ao ensino superior no Brasil e suas consequências. Naercio Menezes Filho, professor da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) fala da necessidade de igualdade de oportunidades no País para que exista crescimento sustentável e justiça social. Ele destaca que, embora tenham ocorrido avanços nas últimas décadas, o acesso ao ensino superior público no país continua restrito e desigual. Para ele, houve melhorias no acesso e permanência no ensino fundamental, mas os desafios persistem nos anos finais e no ensino médio. O capítulo documenta a evolução histórica da educação no Brasil, ressalta os avanços alcançados e analisa os desafios atuais, com foco nas universidades públicas. São apresentadas propostas para aperfeiçoar o sistema de acesso e permanência no ensino superior público, visando à diversidade e qualidade do ensino.
A Sustentabilidade financeira e o modelo de autonomia das universidades estaduais paulistas também é tema de um dos artigos, escrito por Helio Nogueira da Cruz, professor do Departamento de Economia da FEA. Ele explica a questão das receitas e despesas numa perspectiva intertemporal e discute o desafio de criar um ambiente estável e favorável para o desenvolvimento das atividades acadêmicas no Brasil. Apesar da instabilidade econômica e das oscilações políticas, ele aponta que a experiência do Modelo de Autonomia Financeira e Administrativa (Mafa) das universidades estaduais paulistas mostra perspectivas positivas, ressaltando a importância de avançar em planejamento, racionalidade, transparência e comportamento estratégico.
O e-book também destacou os Desafios da Desinformação e do Negacionismo Científico, com o artigo de Francisco Brito Cruz, doutor e mestre em direito pela Faculdade de Direito. O capítulo discute o papel das redes sociais e da internet na disseminação de informações durante a pandemia da covid-19 e o surgimento do negacionismo científico, destacando a influência das plataformas digitais na propagação de desinformação e o desafio de equilibrar a liberdade de expressão com a promoção do conhecimento científico. O autor fala que o enfrentamento do negacionismo científico requer uma compreensão da disputa social e política em torno da validade dos pressupostos científicos.
Dilemas para o futuro
Há também dois textos que tratam do futuro. Ildo Luís Sauer, professor do Instituto de Energia e Ambiente (IEE), fala em Anotações sobre conhecimento, ciência, universidade e observações sobre desafios da USP do desafio de refletir sobre a USP por meio de uma análise retrospectiva do papel da universidade desde a revolução industrial e urbana. A análise busca destacar elementos para orientar a reflexão, abordando questões sobre as perspectivas do sistema universitário e os desafios específicos da USP. O autor discute a crise permanente do sistema universitário brasileiro, sua construção tardia em comparação com experiências internacionais, e apresenta uma visão geral sobre a evolução humana e sua ligação com o conhecimento e a ciência.
Em Dilemas para a USP do Futuro, uma entrevista com o sociólogo Simon Schwartzman trata de assuntos como autonomia, financiamento, excelência acadêmica e inclusão social.
Para ler na íntegra todos os artigos do livro USP Novos Tempos, Novos Olhares acesse o Portal de Livros Abertos da USP clicando aqui.
