Há muitos anos o Instituto de Geociências (IGc) da USP mantém a tradição de celebrar o aniversário de um de seus professores mais antigos e queridos, Setembrino Petri. Em 2003, a data marcou também a inauguração do Laboratório de Micropaleontologia, batizado com seu nome – e foi quando perceberam que não havia mais espaço nas salas ou laboratórios do instituto para acomodar tanta gente.
“Daí se resolveu oficializar o dia 25 de setembro como Tarde Prof. Setembrino Petri, que passou a constar no calendário oficial do instituto”, lembra Paulo César Boggiani, professor que organiza o evento. A festa, então, foi transferida para o pátio do IGc, capaz de receber as centenas de pessoas que aparecem para cumprimentar o professor.
Em 2017, a comemoração do aniversário do professor Setembrino foi marcada para o dia 26, uma terça-feira, dia da semana em que é comum encontrar o professor na Universidade, onde ainda dá aulas na pós-graduação e atende orientandos. “Além do bolo e dos parabéns, alunos dele apresentam trabalhos e falam de paleontologia. Todo mundo vem e quer tirar selfie com ele”, conta a professora Ana Maria Góes, colega de Setembrino no Programa de Pós-Graduação em Geoquímica e Geotectônica. Recuperando-se de uma pneumonia, o professor não pôde participar da festa neste ano, mas pediu que a celebração fosse mantida.
O paleontólogo carrega no nome a marca de seu nascimento, ocorrido em setembro de 1922, em Amparo, no interior de São Paulo. E no sobrenome, um palpite da carreira que seguiria, a geologia.
Mas esse curso nem mesmo existia quando se graduou. “Sou naturalista, não geólogo”, diverte-se. Setembrino formou-se na oitava turma de História Natural da USP, em 1944, que anos depois se desmembraria nos cursos de Ciências Biológicas e Geologia. Brinca que só não se tornou músico, como boa parte da família, porque nunca teve paciência para estudar música. Mas segue como um grande fã de óperas e concertos.
Com uma breve interrupção no período em que trabalhou no Conselho Nacional do Petróleo, anterior à criação da Petrobras, o professor dedicou quase toda sua carreira à USP, onde esteve à frente de órgãos, ajudou a criar a Fuvest e desenvolveu pesquisas pioneiras em geologia. Com 95 anos, conta que sua maior alegria é ver seus orientados tendo sucesso. “É um legado.”
Ana Maria é uma das entusiastas de um livro em homenagem ao professor. Em fase final de elaboração, a obra traz relatos de pesquisadores, muitos deles ex-orientandos de Setembrino, sobre suas contribuições nas várias áreas da geologia. Uma prévia da obra, batizada de Setembrino Petri, do Proterozoico ao Holoceno, será entregue ao professor nesta semana. “Ele mostra a verdadeira contribuição que o geólogo pode dar à humanidade, que é ser esse leitor da evolução do planeta”, diz ela sobre o amigo. Também participam da organização da obra o professor Rômulo Machado e os geólogos Maria Cristina de Moraes e Andrea Bartorelli.
Além da paleontologia, uma das principais áreas de estudo de Setembrino é a estratigrafia, um ramo da geologia dedicado à investigação da origem e distribuição, no espaço e no tempo, das camadas e sequências de rochas.
Para isso, tem como aliados os microfósseis, pequenos organismos que ajudam a contar os ambientes geológicos e quando ocorreram no passado, fornecendo informações relevantes para a indústria petrolífera.
“Os fósseis pequenos têm uma vantagem em relação aos macrofósseis, porque quando o bicho é pequeno ele aparece em grande quantidade. Isso permite coletar bastante material e fazer trabalhos estatísticos, por exemplo”, explica Setembrino, que não perde a oportunidade de fazer aquilo a que dedicou boa parte de seus anos: ensinar.