Aos 102 anos, o ex-aluno Mario Borgonovi relembra trajetória na agronomia

Contribuição para o desenvolvimento da agricultura brasileira se deu principalmente na área de conservação dos solos

 01/11/2016 - Publicado há 8 anos
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Borgonovi ingressou no curso de Engenharia Agronômica da Esalq em 1940 – Foto: Divulgação

Da turma de Engenharia Agronômica de 1940, Mario Borgonovi, hoje com 102 anos, é um dos poucos que pode compartilhar experiências e histórias ainda da primeira metade do século 20. Hoje, a vida tranquila ao lado dos dois filhos, três netos e uma bisneta nos municípios do Rio de Janeiro e Petrópolis (RJ) é bastante diferente do tempo em que exercia sua profissão e dos momentos que passou na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, lugar que despertou seu entusiasmo em conhecer e aprender cada vez mais sobre agricultura.

Em Piracicaba, quando ainda era estudante, Borgonovi residiu na República 44 e fazia parte do Centro Acadêmico da escola, no qual era diretor de esportes. “Fazia o contato com as equipes da região e organizava as competições”, contou. Além de integrar o time esalquiano, participou do XV de Piracicaba, o clube de esportes mais conhecido da cidade.

A paixão pelo esporte era para as horas vagas, pois na maior parte do tempo dedicava-se aos estudos, que eram intercalados com o estágio na Usina Monte Alegre. “Na Esalq, sempre estava envolvido com pesquisas. Lembro-me da época em que não havia plantações de uva na região de Piracicaba, então utilizamos as laranjas para produzir o vinho durante a aula de enologia, já que possuem quase o mesmo processamento.” O engenheiro agrônomo alegra-se relembrando os momentos e conta que sempre ajudava muito os colegas com os trabalhos da disciplina de Engenharia Rural.

Os anos na Esalq foram fundamentais para nortear Borgonovi nas escolhas profissionais. Logo após a graduação, começou a trabalhar no Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e lá começou um vínculo forte e duradouro com a conservação dos solos. “Naquele tempo, estava ocorrendo grande desenvolvimento da cultura do algodão no Estado de São Paulo, a qual propiciava a erosão do solo, passando a ser um grande problema.” Nesse período, Borgonovi aplicou seus conhecimentos e foi um dos que implantaram o sistema de terraceamento, técnica que combatia a erosão, por meio de canais em curvas que evitavam que as fortes chuvas invadissem o terreno.

Por mostrar-se um profissional engajado e esforçado, começou a ser solicitado por fazendeiros e realizava pesquisas nas propriedades. Além disso, foi convidado a recepcionar a visita ao Brasil de Hugh Hammond Bennett, considerado o pai da conservação do solo nos Estados Unidos. “Acompanhei Bennett em viagens por todo o Estado de São Paulo. Com esse contato, adquiri mais conhecimento sobre a área e conquistei uma amizade; foi o início da preocupação com a proteção do meio ambiente”, ressaltou.

A jornada de Borgonovi é longa e cheia de conquistas. “Ocupei cargos importantes em diferentes empresas, lecionei, contribuí com projetos visando ao desenvolvimento da agricultura e do País e hoje, prestes a completar 103 anos, já dei duas voltas ao mundo.” A bagagem de histórias do agrônomo é enorme, e ele lembra todos os detalhes. Como assessor técnico da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, atuou no projeto de reforma agrária e formação de polders no Vale do Paraíba, em território paulista.

Convidado pelo ministro das Minas e Energias, Antônio Dias Leite, Borgonovi colaborou com um projeto de lei de incentivo ao reflorestamento, que contribuiu com o Brasil na sustentação da produção de papel e celulose. Além disso, também foi convidado para auxiliar no projeto de desenvolvimento do Estado do Maranhão. Posteriormente, integrou a Companhia Vale do Rio Doce, mineradora multinacional brasileira, e atuou no setor de reflorestamento, contribuindo com plantio de árvores para produção de celulose e minimizando a dificuldade de se importar papel na época. Assim, ajudou a criar uma fábrica de celulose e vivenciou a criação da Embrapa, que revolucionou a agricultura do País.

A competência e habilidade de Borgonovi com os solos expandiram-se para algo inovador na época. Seus conhecimentos em aerofotogrametria possibilitavam os registros de imagens dos solos em posições elevadas, por meio da técnica de estereoscopia. Com a nova tecnologia, o agrônomo, diretor da Vale do Rio Doce na época, ajudou a solucionar um conflito entre os Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, que há anos lutavam por um território conhecido como “Contestado”.

Com tantas histórias, Borgonovi relembra pessoas que fizeram parte de cada uma delas. “Apesar de não estarem presentes hoje, estarão sempre vivas nas melhores lembranças amigos como Assis Chateaubriand, Manuel Vargas, Monteiro Lobato, Anita Malfatti, Israel Pinheiro e Juscelino Kubitschek”, contou.

Ana Carolina Brunelli / Divisão de Comunicação da Esalq


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