A professora Raquel Rolnik comenta a respeito de um dado estatístico: segundo pesquisa do DataFolha, 14% dos brasileiros percebem a presença de grupos de controle territorial armados nas cidades em que vivem. Nas capitais, esse número chega a 20%. Ela admite que ultimamente muito tem se falado sobre esse assunto, ou seja, da presença do PCC ou das milícias de outros grupos armados no cenário eleitoral. Em sua opinião, isso mostra, de fato, a presença de um novo ator político, já identificado em análises do professor Gabriel Feltran, hoje no Departamento de Ciência Política da Universidade de Paris. Ou seja, trata-se de empresários “que operam em mercados ilegais”, como o da interceptação de carros roubados ou de celulares, “vários mercados ilícitos e que, assim como todos os demais empresários neste país, procuram usar sua influência política junto a políticos para obter vantagens para os seus negócios. E é isso que está acontecendo e nesse sentido vai aumentando o relacionamento entre esses empresários ligados a essas redes delinquenciais e o próprio Estado”.
A colunista diz que as pesquisas do LabCidade confirmam totalmente os dados divulgados logo no início desta coluna, ou seja, de que boa parte do território popular das cidades está sob controle de uma gestão territorial que está servindo “para catapultar e aumentar os negócios desses empresários, que estão acumulando, prosperando e ganhando muito dinheiro e, para isso, vão controlando o território para controlar o mercado e estabelecer as relações com os políticos. Isso é uma verdadeira tragédia”, afirma, um outro tipo de lógica “que convive totalmente, harmonicamente com o empresariado do mundo legal”. Diante desse cenário, qual seria o papel do poder público municipal? Para a colunista, o mais importante é se conseguir falar sobre esse problema, “a gente conseguir olhar e mostrar de que forma isso está reestruturando a relação da produção e da gestão dos territórios, inclusive numa relação com o próprio Estado ou agentes do Estado”. Ainda de acordo com ela, a questão mais relevante é a de “como isso vai modificando as relações políticas localmente, fortalecendo um tipo de empresário que tem muita relação com esses mercados”.
Cidade para Todos
A coluna Cidade para Todos, com a professora Raquel Rolnik, vai ao ar quinzenalmente quinta-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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