Rotação diferencial do núcleo terrestre não provoca grandes impactos para a vida no planeta

Carlos Alberto Moreno Chaves explica a movimentação da estrutura interna da Terra e como ocorre seu monitoramento

 14/08/2024 - Publicado há 7 meses
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Foto: NASA/NOAA/GSFC/Suomi NPP/VIIRS/Norman Kuring – Wikipedia
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Estudo de pesquisadores da Universidade do Sul da Califórnia, liderados pelo sismólogo John Vidale, apontou para recentes mudanças na movimentação do núcleo da Terra. Em 1996, outra pesquisa, realizada pelos cientistas Xiaodong Song e Paul Richards, sugeriu pela primeira vez que a rotação do núcleo interno gira separadamente em relação ao planeta, mas agora essa movimentação pode estar sofrendo alterações. O geofísico Carlos Alberto Moreno Chaves, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, comenta os estudos e discorre sobre as alterações nesse movimento.

Carlos Alberto Moreno Chaves – Foto: Lattes

Segundo o especialista, a estrutura da Terra é composta de três camadas principais: crosta, manto e núcleo. O núcleo terrestre é a camada mais interna e se divide entre o núcleo externo, que é uma mistura líquida de ferro e níquel, e o núcleo interno, o qual é sólido e também composto predominantemente de ferro e níquel, mas com a presença de possíveis elementos mais leves como enxofre, oxigênio e silício.

Rotação

Conforme Chaves, a pesquisa de 1996 analisou dados sismológicos e revelou essa diferença de composição entre as duas partes do interior do planeta. A pesquisa demonstrou que o núcleo interno poderia estar desacoplado mecanicamente do manto terrestre, como se fosse uma pequena esfera girando dentro de outra esfera maior. Ele explica que observações subsequentes indicaram que o núcleo interno não apenas gira, mas pode apresentar variações na sua rotação.

“Por causa dessa variação no movimento de rotação, algumas matérias sensacionalistas começaram a ser divulgadas, afirmando que o núcleo da Terra estava parando, mas não é bem assim. Na realidade, por estar desacoplado mecanicamente do manto, o núcleo pode girar ligeiramente mais rápido e mais devagar ou até mesmo na mesma velocidade que o manto”, conta.

Sismologia

De acordo com o docente, a principal metodologia para monitorar o movimento do núcleo interno é a observação sismológica, que mostra durante um terremoto a propagação das ondas sísmicas que viajam através do interior da Terra e são registradas em estações sísmicas ao redor do mundo. Ele explica que, em 1996, um evento sismológico nas Ilhas Sandwich, ao sul da América do Sul, foi analisado por estações no Alasca, revelando diferenças na forma das ondas sísmicas ao atravessarem o núcleo, fator que poderia indicar uma rotação diferencial.

Chaves afirma que houve muita discussão acerca das técnicas utilizadas pelos pesquisadores, mas essa metodologia foi aprimorada e os resultados confirmados por estudos posteriores, como o de John Vidale, que utilizaram registros de explosões nucleares para obter dados mais precisos. Os resultados mostraram que o núcleo interno pode rotacionar a uma velocidade variável, com períodos de aproximadamente 70 anos.

“Além da sismologia, outros métodos de monitoramento incluem observações geodésicas que analisam o momento inercial e a velocidade angular da Terra. Essas medições têm implicações no cálculo do comprimento do dia, mas as variações são extremamente pequenas. No entanto, a maior parte do monitoramento é de fato sismológico”, diz.

Possíveis causas e efeitos

Conforme Carlos Alberto Moreno Chaves, o estudo das camadas internas da Terra revela que nenhuma delas é homogênea, de modo que o manto e o núcleo apresentam heterogeneidades térmicas e composicionais que podem influenciar essas variações na rotação do núcleo. Ele explica que há hipóteses que sugerem que o núcleo externo e o núcleo interno podem estar acoplados gravitacionalmente ou que a rotação diferencial é causada por interações eletromagnéticas, uma vez que o núcleo externo gera o campo magnético da Terra, fundamental para proteger a vida dos efeitos da radiação solar.

Para o especialista, embora os efeitos da rotação diferencial sejam relevantes para medições extremamente precisas, eles não afetam significativamente a vida na superfície da Terra. Ele conta que a variação que esse movimento causa no comprimento do dia é de microssegundos, uma alteração muito pequena e sem impacto alarmante, a qual é percebida geralmente por profissionais que trabalham com medições muito precisas e que precisam estar sempre ajustando o relógio.

“Apesar de não causar grandes impactos para os humanos, essas descobertas demonstram como a dinâmica interna da Terra pode influenciar a superfície e como as interações complexas entre as camadas do planeta afetam medições precisas. O estudo contínuo dessas variações é essencial para entender melhor a estrutura interna da Terra e suas implicações na superfície”, finaliza.

*Sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira


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