Os números preocupantes sobre o “êxodo de cérebros”, que está em curso no Brasil, são o tema da coluna do físico Paulo Nussenzveig. “Jovens talentosos e pesquisadores estabelecidos estão buscando oportunidades na diáspora diante dos estrangulamentos no financiamento de atividades científicas aqui”, alerta. “Recentemente, a principal agência financiadora da pesquisa acadêmica em nível federal, o CNPq, lançou uma chamada de ‘edital universal’. Apesar de um incremento de R$ 50 milhões em relação ao último edital, elevando o total a R$ 250 milhões, as restrições impostas devem inviabilizar várias propostas.”
“Há duas faixas, A, para grupos emergentes e B, para equipes consolidadas, com limites de número mínimo de pesquisadores e de recursos por pesquisador. Na faixa A, o limite corresponde a R$ 5.500,00 anuais por pesquisador, enquanto na faixa B, o limite é de R$ 9.167,00 (menos de US$ 2 mil anuais). Esses valores nos fariam corar ao contar para colegas do exterior”, explica o físico. “É possível executar um projeto experimental na fronteira do conhecimento com tal limitação de recursos? Para efeito de comparação, a Fapesp tem uma modalidade de auxílio à pesquisa regular, que pode ser concedido a pesquisadores individuais, com limite de R$ 300 mil por dois anos.”
“Os efeitos do minguante financiamento à ciência no nosso país, em curso há vários anos, já podem ser observados em indicadores internacionais, como o índice global de competitividade de talentos, elaborado anualmente pelo INSEAD, na Europa”, aponta Nussenzveig. “Em 2014, o Brasil aparecia na 49ª posição geral entre 93 países, na 33ª posição tanto em capacidade de atração quanto de retenção de talentos. Desde então, temos caído e, em 2020, somos o 80º geral, entre 132 países, 96º em atração e 70º em retenção.”
Ciência e Cientistas
A coluna Ciência e Cientistas, com o professor Paulo Nussenzveig, no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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