Projeto Reouvir pretende ampliar acesso a aparelhos auditivos a partir de modelos nacionais

Segundo Ricardo Ferreira Bento, a redução de custo seria drástica, possibilitando que muito mais pessoas tenham acesso ao aparelho no futuro

 27/08/2024 - Publicado há 6 meses
Imagem de um jovem envolvendo os ouvidos com uma das mãos. A montagem da foto também mostra o desenho do que parecem ser vibrações sonoras
Segundo o IBGE, a audição é a segunda maior causa de deficiência no Brasil – Foto: Freepik
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O projeto Reouvir é agora um Programa de Pesquisa em Políticas Públicas com enfoque em saúde auditiva, almejando ser um centro de referência nacional e, com isso, beneficiando mais de 120 centros SUS com metodologias novas. O plano, inclusive, é montar um aparelho auditivo inédito no Brasil, que hoje importa todos os dispositivos.

O projeto já tem uma longa história de sucesso no ambulatório do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina, tendo início em 1999 e já atendido mais de 25 mil pacientes. Hoje, o grupo Reouvir é o único no HC que é pago totalmente pelo SUS, fornecendo aproximadamente 150 aparelhos gratuitamente por mês. Quem conta mais sobre as novidades do projeto é o professor Ricardo Ferreira Bento, titular da disciplina de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da USP e coordenador desse projeto.

Produto nacional

No ano passado, a Fapesp lançou um Programa de Pesquisa em Políticas Públicas (PPPP), que tem por objetivo orientar o governo em como fazer políticas públicas de maneira mais eficiente. Concorrendo com outras centenas de projetos, o vencedor foi o grupo integrado pelo Reouvir em conjunto com o Inova USP e com a Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo. A proposta é baratear e com isso ampliar o fornecimento de aparelhos auditivos para a população.

Ricardo Ferreira Bento – Foto: Arquivo Pessoal

A fase inicial, que dura quatro anos, consiste em examinar o programa e apresentar melhorias técnicas e práticas. Já a segunda etapa, que, de acordo com Ferreira Bento, é a “mais importante”, consiste em produzir um aparelho próprio no Brasil. “Não existe aparelho de audição nacional e isso seria para baixar o custo do projeto. Então, realmente vai ser um projeto revolucionário.”

Atualmente, todos os aparelhos auditivos fornecidos pelo SUS são importados, especialmente da Dinamarca e Estados Unidos. Eles podem chegar até R$ 20 mil a unidade, mas, ao se fabricar nacionalmente, apenas o chip custa US$ 20 e seria comprado da China. A redução de custo seria drástica e a intenção do projeto Reouvir e da Secretaria de Saúde do Estado é que muito mais pessoas tenham acesso ao aparelho no futuro.

Situação atual

O programa brasileiro de auxílio a pessoas com deficiência auditiva atualmente, segundo Ferreira Bento, já “é um dos programas mais avançados do  mundo, realmente é um programa exemplar”. Ainda assim, o sistema precisa de melhorias, especialmente considerando que a demanda deve aumentar conforme a população envelhece.

Segundo o IBGE, a audição é a segunda maior causa de deficiência no Brasil. “E, com as pessoas ficando mais idosas, quase todo mundo vai precisar usar aparelho de audição”, afirma o professor. Ele complementa, explicando a importância de se ter um aparelho: “Ele não é só para ouvir, ele coloca a pessoa no mundo, porque o idoso que não escuta fica cada vez mais escanteado, perde a estimulação que a audição faz no cérebro”. Existem trabalhos hoje mostrando que quem não escuta bem tem uma maior prevalência de demências precoces por causa da diminuição de estímulos neurológicos e interações sociais.


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