O relator do projeto de lei de revisão do Plano Diretor Estratégico de São Paulo, vereador Rodrigo Goulart, apresentou esta semana o seu substitutivo ao projeto encaminhado pelo Executivo. Sobre isso, o professor Nabil Bonduki diz o seguinte: “Esse projeto é um verdadeiro absurdo, que altera profundamente as diretrizes de uso e ocupação do solo da cidade de São Paulo, amplia enormemente a faixa operada do eixo de transporte coletivo de massa, que foi criada no Plano Diretor. Enquanto no projeto original essa faixa ficava restrita a um raio no entorno das estações de Metrô e do corredor de ônibus, o que o vereador propõe é ampliar isso até um quilômetro no entorno das estações de Metrô e até 450 metros nos corredores de ônibus”.
Para Bonduki, se esse projeto for levado adiante, praticamente todo o centro expandido de São Paulo ficará sujeito a uma verticalização sem limites. Mas os prejuízos para a cidade não param por aí, pois ele “cria uma zona que não tem o menor sentido, chamada zona de concessão, ou seja, todas aquelas áreas que a Prefeitura concedeu para o setor privado passam a ser consideradas uma zona que pode ter seu uso alterado, ou seja, áreas como o Pacaembu, como o Ibirapuera, como todos os cemitérios da cidade, como vários mercados municipais poderão ter seus usos e seus coeficientes totalmente alterados”.
O colunista entende ser fundamental que se barre a possibilidade desse projeto, que é muito complexo, ser aprovado rapidamente pela Câmara Municipal, como pretende o presidente da Casa e toda a base governista. Segundo Bonduki, não tem o menor cabimento a população de São Paulo sofrer uma alteração tão profunda, numa lei tão importante como é a do Plano Diretor, sem conhecer o que efetivamente está se modificando. “Urge que vereadores preocupados com o futuro da cidade, entidades da sociedade civil, representantes da sociedade no Conselho Municipal de Política Urbana, movimentos sociais, acadêmicos, todos aqueles que querem uma cidade melhor, apresentem uma proposta alternativa a essa proposta apresentada pelo relator”, conclama o colunista.
“Não é possível que a cidade de São Paulo fique sujeita a um projeto que vai favorecer apenas o setor privado, sem se preocupar com o conjunto da cidade, sem se preocupar com a qualidade de vida. Nós, da Universidade, através do Fórum SP 23, que reuniu entidades acadêmicas e profissionais, apresentamos um conjunto amplo de propostas de interesse da cidade. Essas propostas foram encaminhadas ao relator, mas foram desconsideradas, enquanto que ele colocou no projeto aquilo que interessa apenas para o mercado imobiliário, ou seja, um projeto que amplia enormemente as áreas de verticalização na cidade, sem respeitar nenhuma questão que possa levar em conta o interesse cultural, ambiental e urbano da população de São Paulo”, conclui Nabil Bonduki.
Cotidiano na Metrópole
A coluna Cotidiano na Metrópole, com o professor Nabil Bonduki, vai ao ar quinzenalmente às quinta-feira às 9h00, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção a Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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