Centenas de execuções de civis e casos de tortura e estupro cometidos pelas tropas russas pintam com as cores do terror o conflito entre Rússia e Ucrânia. De acordo com Marília Fiorillo, dificilmente Vladimir Putin será julgado como criminoso de guerra pelo Tribunal Penal Internacional, “pois a Rússia não é signatária do Tratado de Roma”. Ela observa que o Kremlin tem usado táticas semelhantes àquelas que praticou na Síria, em socorro ao ditador Bashar al-Assad, ou às do massacre da Chechênia, em 1999. A colunista acredita que novas e maiores barbáries, além das já cometidas, virão por aí, no compasso do avanço das tropas russas pelo território ucraniano. No entanto, de acordo com ela, um aspecto que pouco se comenta é o da arregimentação, por Putin, de mercenários neonazistas para ajudá-lo na Ucrânia – no caso, uma milícia privada a serviço dos interesses exteriores do governo Putin. O grupo neonazista em questão, Wagner Group, tem íntimas conexões com a espionagem russa e opera em vários países.
“Para a Rússia, é vantajoso usar mercenários neonazistas, não só por sua selvageria […] mas também porque os crimes deles, sendo terceirizados, não podem ser diretamente atribuídos ao governo russo”, diz Marília. “Os neonazistas do Wagner já prestaram serviços a Putin na Síria, Líbia e na República Centro-Africana. São muito mais experientes que os jovens soldados russos, convocados para uma guerra que mal entendem e cansados com a longa espera e as dificuldades do terreno.” Calcula-se que a milícia neonazista de Putin, em sua ofensiva, possa mobilizar cerca de 10 mil homens, ex-veteranos de guerra, que recebem por volta de US$ 4 mil mensais. “Que ironia, o fantasioso pretexto de desnazificação da Ucrânia não poderia ser melhor desmascarado do que por esse apoio de Putin aos seus nazistas de estimação – os wagnerianos leais e letais.”
Conflito e Diálogo
A coluna Conflito e Diálogo, com a professora Marília Fiorillo, vai ao ar quinzenalmente sexta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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