O professor Renato Janine Ribeiro esteve no início de setembro na Amazônia para participar de um workshop que discutiu projetos sobre três tópicos principais: economia, sociedade e meio ambiente, evento promovido pelo Conselho de Estudos para o Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental (Conselhão) do governo federal, que, segundo o colunista, está muito empenhado em fazer o desenvolvimento da região. “O Brasil tem o privilégio de contar com a riqueza natural fabulosa da Amazônia e é bom deixar claro que essa riqueza natural deve muito às populações locais […] e muita gente no Brasil ainda acha que a Amazônia é uma dádiva da natureza ou de Deus e que as populações da região apenas se beneficiam e não seriam trabalhadoras.” Nesse aspecto, pesquisas feitas por arqueólogos e antropólogos brasileiros têm mostrado que “o que nós temos na Amazônia é fruto de um trabalho de séculos, talvez milênios, das populações locais”.
“Quando eles estudam vêm, por exemplo, que souberam plantar em elevações, souberam conter certas inundações, souberam lidar com a seca, e todo saber ancestral precisa ser recuperado. Ao mesmo tempo em que qualquer pesquisa sobre a Amazônia precisa dialogar por saberes ancestrais, também é muito importante reconhecer que é um trabalho das populações, que dá direito a elas à região, ou seja, qualquer pesquisa sobre a Amazônia, qualquer aplicação dos princípios ativos que se encontrem na natureza amazônica para gerar medicamentos, gerar cosméticos, gerar alimentos, deve render tributo àqueles que fizeram para chegarmos aí. E render tributo, às vezes, é literal, é pagar royalties, pagar direitos a essas populações. Lembrem que, uns anos atrás, alguns japoneses tentaram patentear o açaí, isso é um absurdo. O Brasil foi à luta e conseguiu evitar isso, mas tem outras tentativas desse tipo de picaretagem e de pilantragem mesmo, que é tentar roubar o que é dos outros, embora, por sinal, haja regras internacionais que dizem que produtos da natureza em estado natural não podem ser patenteados, mas é claro que a produção deles deve muito às nossas populações de lá”, avalia Janine. “Nós precisamos desenvolver tudo isso da Amazônia e precisamos conhecê-la melhor. Quem vai lá, quem visita o Centro de Biotecnologia da Amazônia também vê a quantidade incrível de produtos que são extraídos da natureza: óleos, alimentos, cosméticos, tudo isso é muito bom”, finaliza.
Ética e Política
A coluna Ética e Política, com o professor Renato Janine Ribeiro, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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