Parques ambientais são a linha de frente para a elaboração de medidas de conservação ambiental

Com mais de 70% da terra sofrendo interferência humana, Unidades de Conservação se tornam áreas ainda mais importantes, avalia Ana Lúcia Brandimarte

 Publicado: 20/06/2024
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Parque Estadual Marinho da Pedra da Risca do Meio – Foto: Comunicação Sema

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Pesquisadores observaram 14 associações entre esponjas e serpentes do mar na costa do Ceará. As interações contribuem para a reciclagem de matéria orgânica dos oceanos e para a formação e manutenção do meio ambiente. A observação da natureza é uma atividade essencial para os humanos. Entender a dinâmica de um ecossistema, as relações ecológicas dos diferentes agentes que o compõem, seus mecanismos de defesa e toda sua atividade quando se encontra em um estado saudável permitem uma melhor teorização de como aquele ecossistema funciona e levam, consequentemente, à elaboração de medidas mais embasadas para proteger esses espaços. 

Acontece que áreas naturais em estado saudável, sem interferência humana e degradação significativa, são cada vez mais raras no mundo. Pesquisadores da Universidade de Queensland, na Austrália, e da Sociedade para a Conservação da Vida Silvestre desenvolveram um mapa global de áreas sem interferência humana. Hoje, mais de 70% da terra (excluindo a Antártida) e 80% do oceano foram modificados por atividades humanas. Essa interferência antrópica torna ainda mais importante o papel dos parques ambientais para a sociedade científica e geral. Sete das 14 interações que foram observadas entre esponjas e serpentes do mar, mencionadas anteriormente, foram vistas em áreas de conservação da biodiversidade: o Parque Estadual Marinho da Pedra da Risca do Meio e o Canal das Arabaianas, ambos em Fortaleza. 

Parques ecológicos são unidades de conservação (UC) destinadas ao uso sustentável. O objetivo principal é conservar amostras dos ecossistemas naturais. As unidades propiciam a recuperação dos recursos hídricos e recuperação de áreas degradadas, promovendo sua revegetação com espécies nativas. O monitoramento ambiental dessas áreas fornece dados importantes sobre um ecossistema saudável e também sobre o processo de regeneração desses locais. Além disso, por serem áreas de domínio público, atividades de lazer e recreação da população em contato harmônico com a natureza são estimuladas, promovendo uma oportunidade de ampliar o acesso à educação ambiental. 

Compreender para proteger

A professora Ana Lúcia Brandimarte, do Instituto de Biologia da USP, é especialista em  ecossistemas de águas continentais. Ela trabalha no monitoramento da qualidade da água no parque estadual Serra da Cantareira, um exemplo de UC mais próximo da realidade paulistana. Inaugurado em 1962, o parque é uma área remanescente da Mata Atlântica e possui uma das maiores áreas de mata tropical em regiões metropolitanas do mundo. Tanto a fauna quanto a flora do parque abrigam espécies em extinção, como o bugio, o gato-do-mato, a jaguatirica, o macuco, o gavião-pomba, o jacuguaçu e o bacurau-tesoura-grande. Entre as plantas, estão a imbuia, a canela-preta e a canela-sassafrás. 

Ana Lúcia Brandimarte – Foto: Reprodução/IB-USP

“Só podemos conservar o que entendemos. É necessário compreender a estrutura e o funcionamento do que queremos proteger. Uma vez que a gente conhece essas informações, podemos pensar em medidas de recuperação ou mesmo restauração. No Parque da Cantareira, por exemplo, foi possível perceber a diferença entre um curso de água com e sem interferência humana em detalhes mais profundos”, explica. 

A professora e sua equipe analisaram cerca de 30 nascentes de água da região, coletando dados sobre a composição química da água, variáveis físicas, compostos orgânicos presentes e as interações da biota local com corpos d’água saudáveis. “Observamos características muito importantes: altas concentrações de oxigênio dissolvido na água, baixa concentração de nutrientes, desfavorecendo o crescimento de algas e favorecendo o equilíbrio da biota. Mapeamos também uma série de insetos e animais de certas denominações taxonômicas que se comportam como indicadores da saúde desses rios. A presença deles indica uma boa condição da água naquela região. Da mesma forma, a presença de outras espécies se mostraram indicadores de insalubridade”, elucida. 

Essa análise funciona como uma fotografia de referência. Com ela em mãos, os cientistas têm a imagem exata de como se parece o ambiente saudável, antes das interferências humanas. Isso entrega aos pesquisadores um norte no trabalho de encontrar caminhos para a restauração dessa situação de referência. “No caso do Parque da Cantareira, o que precisamos agora é fazer com que os cursos d’água ainda degradados cheguem nessa situação de referência que nós descobrimos”, conta. “Antes, partíamos do princípio de que, se a vegetação está conservada, então automaticamente os corpos d’água estão protegidos e a qualidade da água vai estar boa. No entanto, observamos que alguns dos riachos do parque, mesmo protegidos, ainda não estão em condições ideais observadas. Para entender o porquê, é necessário considerar aspectos relacionados ao controle do uso e ocupação do solo no entorno do parque e as alterações na biota. Muitas vezes, atividades externas ao parque terminam influenciando o ambiente dentro dele, ainda que ele esteja em uma área protegida. Se tratando de uma das maiores áreas ambientais urbanas do mundo, esses dados e processos de restauração são muito importantes”, finaliza. 

*Sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira


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