
O dia 1º de julho de 2024 lembra os 50 anos da morte de Juan Domingo Perón, ex-presidente da Argentina e fundador da corrente peronista. O movimento marcou a história do país, tendo fortes laços com lutas socialistas e de trabalhadores. Ame ou odeie, é difícil discordar que o peronismo seja o maior movimento político da República Argentina.
Já a hegemonia nas últimas décadas, sendo o peronismo representado por oito dos 12 presidentes argentinos desde o fim da ditadura, apresenta sinais de desgaste; hoje o presidente é Javier Milei, ultradireitista e forte opositor ao movimento. Mas, para o pesquisador da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, Fernando Ferreira, o legado de Perón está firme e forte: “Apesar de ter perdido a presidência, o peronismo está longe de ser uma força política derrotada”.
Nas casas legislativas, o peronismo não chegou a superar a marca dos 50%, mas em ambas ficou com a maior representação entre os blocos políticos. O professor traz outro dado relevante: “O peronismo teve uma vitória gigante na Província de Buenos Aires e, quando a gente fala da Província de Buenos Aires, falamos do Estado mais rico da República Argentina”. Axel Kicillof foi eleito governador com 44,88% dos votos, enquanto o segundo teve apenas 26,6%.
Críticas ao movimento
Em entrevista ao Brasil de Fato, o ex-candidato à presidência argentina em 2023 e ligado à ala de esquerda do peronismo, Juan Grabois, faz uma avaliação da situação atual. Ele diz que o peronismo passa por um momento turbulento, porque seus representantes recentes foram incapazes de prestar mudanças profundas e estruturais. O político diz que o peronismo se ocupou mais de pura estatização do que realmente converter isso em melhora de qualidade de vida.
Fernando Ferreira concorda com o diagnóstico dele. Segundo o professor, o Estado argentino vem sofrendo um desmonte desde a ditadura militar, ligado ao corte de gastos sistêmico e a uma ‘subordinação da economia Argentina ao mercado mundial’. Ainda que o peronismo preveja uma atuação do Estado para prover um bem-estar social e uma alta representação da classe trabalhadora, Ferreira diz que, nos últimos anos, este não tem sido o caso.
O que podemos esperar
O pesquisador diz que entender o peronismo atualmente – e a política como um todo – não é a mesma tarefa de 20 anos atrás. O mundo mudou. Ferreira diz que, fossem os anos 2000, não haveria dúvida de que o peronismo ganharia as próximas eleições; em 2024, no entanto, é difícil de prever com tantas novas variáveis.
A capacidade do peronismo de se adaptar e renovar é uma característica marcante da corrente, que tem por princípio abarcar diversas ideologias, por vezes até contraditórias. Para as novas eleições, seria seguro dizer que o peronismo seria forte candidato a voltar ao poder, mas, nas palavras de Ferreira, isso apenas “se nós estivéssemos numa conjuntura normal, o que nós não estamos; tanto dentro da Argentina como num contexto global, vivemos uma crise multifacetada”.
Sendo o peronismo vencedor nas próximas eleições ou não, o professor não deixa de comentar quais políticos são mais prováveis de aparecerem. “Grabois e Kicillof são figuras de destaque que podem renovar o kirchnerismo e o peronismo”, diz ele. Ambos jovens, o primeiro é o mencionado ex-candidato à presidência de 2023 e o segundo é o atual governador da Província de Buenos Aires. Segundo Ferreira, eles têm força política para emergirem como novos rostos do peronismo e possivelmente ocuparem a presidência no futuro.
*Sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira
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