As ondas de calor, que têm sido frequentes e que têm ultrapassado as temperaturas médias na capital, levantam, segundo a professora Raquel Rolnik, duas questões: como garantir o conforto e a vida diante de uma temperatura tão alta; a outra questão tendo a ver com o modelo de cidade e o que tem provocado essas emissões de carbono. No caso de São Paulo, segundo a colunista, esse modelo é “extremamente carbocêntrico”. E o sistema de transporte tem muito a ver com isso, pois é responsável por 61% do total das emissões na cidade.
O vilão é o transporte sobre pneus, que se vale da queima de combustível fóssil. Outro ponto está ligado à eficiência energética das edificações, “quanto mais esses prédios consumirem carbono, consumirem elementos da cadeia petroquímica, e quanto mais esses prédios forem construídos de uma maneira que precise de muita energia para ser climatizado – por exemplo, prédios de vidro, que precisam de ar-condicionado no máximo, isso é um altíssimo consumo de energia”. Há que se pensar, de acordo com ela, numa mudança da própria organização das edificações.
O pior é que o Plano Diretor da cidade vai na contramão do que teria de ser pensado como uma estratégia. “E a coisa mais contraditória é que, de fato, São Paulo fez um plano em 2011 para tentar enfrentar essa questão climática […] na verdade, nós estamos completamente aquém das metas, nós já teríamos que estar trabalhando com eletrificação do transporte coletivo há muito tempo”, diz a colunista. “Enfim, nós vamos ter que trabalhar com uma gestão muito mais inserida no cotidiano das regras da cidade e não um plano paralelo que não tem incidência sobre nada.”
Cidade para Todos
A coluna Cidade para Todos, com a professora Raquel Rolnik, vai ao ar quinzenalmente quinta-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
.