“Nhonhô” é o diminutivo de “Sinhô” e a forma como os escravizados se dirigiam aos jovens da casa-grande. É essa palavra que sintetiza as dinâmicas do poder que dá o título do documentário de Giselle Beiguelman e Ilê Sartuzi, ambos artistas da Universidade de São Paulo.
“O vídeo faz uma releitura da história de São Paulo a partir da arquitetura de um palacete em Higienópolis, conhecido como Palacete Nhonhô Magalhães”, explica Beiguelman em sua coluna Ouvir Imagens (clique e ouça o player acima). “No vídeo, uma câmera atravessa os ambientes da casa vazia , reconfigurados por fotogrametria, enquanto um narrador cruza o personagem com a história do bairro e o presente da cidade.”
Nhonhô é um documentário experimental que traz a biografia de um palacete que atesta o delírio europeizante e o isolamento social da elite paulista do início do século 20. “O vídeo prescinde da imagem humana. A narrativa parte da reconstrução e da desconstrução virtual de elementos arquitetônicos de uma casa suspensa entre a ruína e um restauro que a incorporará ao ideal de beleza vigente no bairro quase um século depois de sua conclusão”, destaca Beiguelman.
As imagens do interior do palacete foram colorizadas por Inteligência Artificial. “Os procedimentos de colorização retrospectiva borram os limites temporais. Curiosamente, seus algoritmos, ao tomarem como referência os bancos de imagem europeus, no processo de machine learning, conferem às imagens tonalidades que espelham o olhar que certas elites tinham e têm sobre si e o País.”
Nhonhô está em exposição no canal de Estreias do Videobrasil até 31 de março.
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Ouvir Imagens
A coluna Ouvir Imagens, com a professora Gisele Beiguelman, vai ao ar quinzenalmente, segunda-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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