Na coluna desta semana, Raquel Ronlik comenta sobre a Estação Saracura do Metrô, que continua causando mobilizações no bairro. A luta dos moradores é para garantir o reconhecimento do Bexiga, inclusive pelo nome Saracura-Vai-Vai. A estação foi denominada inicialmente como 14 Bis, mas a Escola de Samba Vai-Vai foi removida do lugar onde estava para que fosse criada, naquele espaço, uma estação da Linha 6 do Metrô. “É uma luta do bairro, porque exatamente onde está essa estação é também um local onde existiu historicamente um quilombo, o Quilombo do Saracura. Os vestígios desse quilombo começaram a ser encontrados no momento em se começou a fazer arqueologia ali, durante a escavação.”
A professora explica que quando começam a fazer grandes obras é necessário ter uma arqueologia. “E essa arqueologia, quando apareceu, houve toda uma pressão das organizações de negros do Bexiga para que se identificasse ali os vestígios do quilombo, porque a história do Bexiga mostra que a região foi um território negro e continua sendo um território negro da cidade de São Paulo.” A pesquisa arqueológica encontrou os vestígios e agora foram encontradas as ruínas, talvez da mais antiga estrutura de drenagem, intervenção no próprio Rio Saracura ali. E a proposta do movimento é preservar essas estruturas históricas dentro da própria estação do metrô, ou seja, uma estação de metrô que incorpora essas ruínas e que usa exatamente esse lugar para contar a história e afirmar a presença desse território negro no Bexiga”, conta a urbanista.
O metrô tem indicado que a demora das discussões inviabilizou a estação, o que vai prejudicar o bairro. Para a professora, está claro que se trata de uma chantagem, porque é absolutamente possível o metrô rever esse projeto, mesmo que essa questão não estivesse colocada no momento que se fez o projeto. “Existem várias estações de metrô pelo mundo afora que incorporam ruínas. Um exemplo é o da cidade do Porto, em Portugal, que a estação Campo 24 de Agosto tem uma ruína. Inclusive de uma antiga estrutura de um reservatório de águas construídos no século 16.”
Para a colunista, é possível e é muito importante o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) reconhecer que as ruínas devem fazer parte da estação pós-arqueologia. E o bairro do Bexiga está absolutamente unido para defender que essa estação tem que existir, sim, e tem que existir afirmando aquilo que o bairro deseja que seja afirmado.
Cidade para Todos
A coluna Cidade para Todos, com a professora Raquel Rolnik, vai ao ar quinzenalmente quinta-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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