Miopia: entre a prevenção, o tratamento e a cura

Há décadas se sabe que privar o olho de visão aumenta o seu tamanho e causa miopia e, por outro lado, impedir que o olho faça foco para perto reduz a progressão da miopia

 25/10/2023 - Publicado há 8 meses
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A miopia é a segunda ou terceira causa de baixa de visão mais frequente e algumas possibilidades de reduzir sua frequência e intensidade de grau na população são cogitadas de tempos em tempos. Pesquisa clínica recente revela que o uso de colírio de atropina não foi capaz de desacelerar a progressão da miopia em crianças.

A miopia é a dificuldade para ver de longe por causa do olho ser maior do que sua capacidade refrativa e a imagem se formar antes do ponto focal. Assim, a pessoa com miopia aproxima o objeto ou reduz a área que quer enxergar e assim melhora a nitidez da imagem. Ela se manifesta entre o final da infância, adolescência ou início da vida adulta, período em que ocorre o crescimento físico das pessoas. A miopia tem causas genéticas associadas às ambientais, como atividades em ambientes fechados, uso predominante da visão para perto. Míopes são, de maneira geral, pessoas com aptidão para leitura, trabalhos manuais e, em décadas recentes, também para jogos e atividades em telas de eletrônicos.

Pessoas míopes podem ver melhor com óculos, lentes de contato e optar em algum momento, após a estabilização do grau, pela cirurgia de correção da miopia. Já se falou, no passado, que luminosidade artificial noturna ou privação de sol estariam entre os potencializadores de miopia, mas essas informações são questionáveis. Há décadas se sabe que privar o olho de visão aumenta o seu tamanho e causa miopia e, por outro lado, impedir que o olho faça foco para perto reduz a progressão da miopia.

Para impedir que o olho faça foco existe tratamento com colírio. A atropina é um deles, bem conhecido. Em doses altas e uso frequente, realmente reduz a progressão da miopia, mas os efeitos colaterais, desconforto e riscos inviabilizam a estratégia. A possibilidade do uso em doses bem baixas, de 0,01% de atropina, foi testada contra placebo em 187 crianças entre cinco e 13 anos, nos EUA,  uma vez à noite, por dois anos, e o que Michael X. Repka e colaboradores de Tampa, na Flórida, observaram e publicaram na revista JAMA, em julho de 2023, foi uma progressão do crescimento ocular e do erro refrativo, ou seja, da miopia similar nos dois grupos. Isso indicou que a atropina em dose baixa não teve o efeito esperado.

Esse estudo difere na estatística de alguns estudos feitos na Ásia, mas o fato é que a redução significativa da progressão da miopia não foi alcançada, pelo menos com atropina nessa dose. Assim, a busca por uma prevenção da miopia segue com estímulo a atividades alternativas ao uso excessivo da visão de perto na infância (telas de eletrônicos) e nas pesquisas científicas por algo mais eficiente e seguro que óculos, lentes de contato ou cirurgia, quando for o caso.


Fique de Olho
A coluna Fique de Olho, com o professor Eduardo Rocha, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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