
Um estudo realizado por estudantes da Escola Politécnica (Poli) da Universidade de São Paulo propôs avaliar o potencial de medidas de drenagem urbana sustentável, com o objetivo de mitigar futuras enchentes em áreas densamente povoadas. Para isso, os estudantes resolveram focar suas atenções na região da bacia do córrego do Anhangabaú, uma região essencial e complexa, segundo Filipe Chaves Gonçalves, autor do estudo e pós-graduando em Engenharia Civil da Escola Politécnica da USP.

Segundo o pesquisador, o Vale do Anhangabaú tem grande importância histórica, considerando a ocupação urbana que teve início em suas margens. Gonçalves detalha que o Vale estende-se da Avenida Paulista até o rio Tamanduateí, na região do Mercado Municipal, onde compreende três córregos subterrâneos importantes: Saracura, o Bexiga e o Itororó. Esse cenário, para ele, torna essa região um desafio crítico, principalmente pelas constantes inundações que ocorrem em seus entornos.
“A região sofre com inundações desde a década de 30 do século passado. Então, há cerca de 100 anos nós temos um histórico de inundações na região. Estão associados a uma série de desafios, a uma série de fatores, na realidade. Os principais, eu diria que seriam a retificação e a cobertura dos córregos da bacia e principalmente a ocupação das várzeas por vias de tráfego intenso”, explica Gonçalves.
O enfoque na região do Anhangabaú se dá, principalmente, pela dificuldade de implementação de estruturas convencionais para a mitigação de inundações, as galerias subterrâneas, que consistem em reservatórios subterrâneos, estruturas de grande porte. Dessa maneira, o estudo tem seu enfoque em medidas sustentáveis, como as células de biorretenção que, segundo o pesquisador, trata-se de “jardins de chuvas com camadas de areia, que permitem um maior tempo para a infiltração. Parques lineares, como, por exemplo, o futuro Parque do Bixiga”.
Auxílio de software
Para a análise do desempenho dessas medidas, o estudo utiliza-se do Storm Water Management Model (SWMM), um software amplamente utilizado na drenagem urbana para simulação de chuvas vazão. Para Gonçalves, a relevância do estudo está na aplicação desse modelo para avaliação dos impactos das cheias.
“Apesar de o software já ter sido muito explorado, existem vários estudos de dispositivos usados, mas a gente tem um desafio bastante grande de extrapolar, de generalizar os achados que foram obtidos de uma determinada área para a nossa região. Estudos feitos, de repente, em outro país, mas até em outras regiões do Brasil podem ter um padrão de precipitação diferente, uma temperatura, um solo diferente. Isso tudo contribui para que os achados possam ser um pouquinho diferentes de uma bacia hidrográfica para outra.”
Com foco em entender se as medidas de drenagem sustentável podem reverter os efeitos da urbanização no ciclo hidrológico, que efetivamente vêm causando mais cheias ao aumentar a velocidade da água, Gonçalves afirma que, em parte, o objetivo foi atingido. “As medidas sustentáveis mostraram uma eficácia muito boa na redução do volume escoado, aquele volume que não é infiltrado. Também mostraram eficácia na redução da máxima vazão observada na rede, também da área inundável. Então isso sim foi observado, mas em especial em áreas de menor lâmina d’água, menor criticidade”, explica o pesquisador.
Entretanto, ele relata que em regiões de maior criticidade, ou seja, com enchentes mais intensas, a eficácia é um pouco mais limitada. “Observamos também que são medidas muito sensíveis à duração e intensidade da precipitação. Com eventos de maior duração e intensidade, as medidas caem. Temos observado, nos últimos dias e semanas, eventos bem significativos. Significa dizer que, assim como as medidas convencionais, elas apresentam um desafio importante. Por serem de grande porte, as medidas sustentáveis, talvez, sejam mais fáceis de serem implementadas, mas elas também apresentam um desafio em função da magnitude dos eventos.” Assim, o estudo concluiu que a junção de métodos convencionais e sustentáveis atuariam de maneira mais eficaz contra enchentes, tanto em áreas de menor como de maior criticidade.
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