A ciência, na Venezuela, parece estar com seus dias contados. Ela padece de falta de financiamento e da restrição enorme da liberdade acadêmica. Com isso, muitos pesquisadores venezuelanos procuram meios para abandonar o país, uma vez que a ciência tornou-se marginal na Venezuela. Diz Glauco Arbix: “A Academia de Física, Matemática e Ciências Naturais da Venezuela relatou recentemente que químicos e geólogos de excelência recebem em torno de US$ 50 por mês, não é à toa que a fuga de cientistas é uma realidade crescente. Estimativas de associações científicas já apontam que, nos últimos 20 anos, mais de 20% dos cientistas, que respondiam por mais de 30% dos artigos indexados nesse período, já deixaram o país”.
E tudo pode piorar: instituições públicas de pesquisa e universidades que empregam a grande maioria dos cientistas que permanecem hoje na Venezuela “têm problemas para manter suas portas abertas exatamente por causa da falta de receita do governo, por conta de funcionários nomeados politicamente que administram mal os orçamentos da educação e da ciência. Mas não é apenas o financiamento que é o problema, a liberdade acadêmica no país está por um fio, veja a ironia: em nome do socialismo no século 21 o governo assumiu o controle do financiamento viabilizado por empresas privadas que era dado diretamente aos pesquisadores; por pressão do governo, conselhos comunais e grupos de cidadãos locais são responsáveis por definir orçamentos das universidades e eleger vice-reitores universitários”.
Como se não bastasse, recentemente o governo aprovou uma lei que regulamenta as organizações não governamentais (ONGs) que financiam muitas pesquisas. “Aprovada em agosto do ano passado, a lei exige que as ONGs compartilhem informações sobre o seu financiamento com o governo venezuelano para supostamente garantir que grupos de sociedades civis não promovam o fascismo, a intolerância ou o ódio. No entanto, relatos de diferentes fontes dão conta que a lei dá ao governo poder de processar qualquer pesquisador que discorde de suas políticas […] a desinstitucionalização da ciência é esforço deliberado para eliminar o contraditório, que é o oxigênio próprio da ciência há séculos. É uma pena.”
Observatório da Inovação
A coluna Observatório da Inovação, com o professor Glauco Arbix, vai ao ar quinzenalmente, terça-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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