O Projeto Genoma Humano, idealizado com o objetivo de mapear todos os genes humanos, foi concluído em 2005, mas somente no ano passado foi considerado quase completo. O interessante é que cerca de 20% dos genes – algo em torno de 1.700 – têm sua função desconhecida. Mas pesquisadores ingleses investigaram esses genes misteriosos e forneceram informações para acelerar pesquisas futuras.
Inicialmente, foi criado e disponibilizado um banco de dados, que classifica as proteínas com base no pouco que se sabe sobre elas e as comparou com outros organismos, incluindo bactérias, vermes, insetos e até mamíferos. A hipótese, segundo os autores, é que os genes que estão presentes em todas essas espécies (os que se mantiveram conservados ao longo da evolução) certamente teriam uma função importante.
Para tentar entender qual era a função desses genes, os autores usaram como modelo a drosófila, popularmente conhecida como a mosca da fruta. Através de técnicas denominadas RNA de interferência (silenciamento de genes) e CRISPR (edição genética), os cientistas conseguiram neutralizar cerca de 300 genes que estavam presentes tanto nas drosófilas como em humanos. “A vantagem de usar as drosófilas como modelo é que elas são fáceis de se reproduzir, têm um ciclo de vida curto, produzem muitos descendentes e são fáceis de serem manipuladas geneticamente no laboratório”, esclarece Mayana Zatz, diretora do Centro de Estudos sobre o Genoma Humano e Células-Tronco da USP.
Mayana diz, também, que esse estudo demonstra a quantidade de genes cuja função precisa ser descoberta. “Para os cientistas, isso é uma boa notícia. Teremos muitos anos de pesquisas pela frente.”
O artigo Functional unknomics: Systematic screening of conserved genes of unknown function, derivado do estudo, foi publicado na revista Plos Biology em agosto deste ano.
Decodificando o DNA
A coluna Decodificando o DNA, com a professora Mayana Zatz, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 9h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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