Fenômenos climáticos influenciam no crescimento de casos de dengue

Pedro Luiz Côrtes explica a relação do El Niño e do La Niña com o aumento dos casos de dengue, principalmente o primeiro, marcado por períodos quentes e úmidos, sobretudo nas Regiões Sul e Sudeste

 20/12/2024 - Publicado há 2 meses
Imagem ampliada do mosquito causador da dengue, o aedes aegpty
A influência crescente das mudanças climáticas indiretamente interfere na saúde pública, contribuindo para a proliferação de doenças como a dengue – Foto: Gustavo Lima/Senado Federal e creditada à James Gathany/CDC-HHS pela alteração do fundo
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Um levantamento de dados realizado por pesquisadores da Fiocruz e do Procam (Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental) da USP revelou que fenômenos climáticos como o El Niño e La Niña relacionam-se diretamente com o crescimento de casos confirmados de dengue registrados no Sistema Único de Saúde (SUS). Os dois fenômenos climáticos, que ocorrem de forma natural e são intensificados pela ação humana, atuam especificamente sobre o volume de chuva e variação de temperatura de uma região. Dessa forma, a ocorrência de tais fenômenos afeta diretamente a incidência de focos da doença, situação detalhada pelo professor Pedro Luiz Côrtes, titular da Escola de Comunicações e Artes e do Instituto de Energia e Ambiente da USP.

Fenômenos

Segundo o professor, os dois fenômenos afetam os mesmos elementos climáticos, entretanto, de maneiras opostas: “O El Niño é um fenômeno natural, um fenômeno climático que intensifica as chuvas e eleva as temperaturas na Região Sul e em parte da Região Sudeste. Ao mesmo tempo, ele reduz o volume de chuvas na Região Norte e Nordeste. O fenômeno La Niña, em contraste, gera efeitos opostos, diminuindo as chuvas e temperaturas no Sul e no Sudeste e provocando um aumento das chuvas na região Norte e Nordeste”, explica Côrtes.

Pedro Luiz Côrtes – Foto: Lattes

Ambos os fenômenos ocorrem de maneira natural, atuando como reguladores do clima. Entretanto, com a ação humana e influência crescente das mudanças climáticas, ambos têm se intensificado e causado cada vez mais desastres, com calor excessivo ou com volume de chuvas exacerbado. Além de, indiretamente, interferir na saúde pública, contribuindo para a proliferação de certas doenças. Esse é o caso da dengue, doença cuja proliferação é intensificada em ambientes quentes e úmidos, logo, especificamente, durante os períodos de El Niño e La Niña.

“A análise dos dados oficiais do SUS sobre os casos confirmados de dengue comparados com os registros do fenômeno El Niño e La Niña revela que a incidência de dengue tende a ser maior durante os períodos de El Niño, porque ocorre um aumento de chuvas e temperaturas na Região Sul e em parte da Região Sudeste (…) a comparação entre os dois conjuntos de dados de casos confirmados de dengue e a ocorrência do fenômeno El Niño e La Niña mostram que a tendência da ocorrência da dengue tende a ser maior durante o El Niño.”

Prevenção

Para a prevenção da doença, o professor enfatiza a necessidade de um amplo incentivo de políticas públicas contra a doença. “É fundamental que o poder público e o sistema de saúde intensifiquem as campanhas de prevenção à dengue, considerando a possibilidade de uma situação similar em 2013, quando houve um aumento do número de casos confirmados durante um período de neutralidade climática entre o El Niño e o La Niña.”

Sobre a possibilidade de utilização de vacinas contra a dengue, Côrtes alerta que o processo de liberação para sua utilização pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pode ser demorado, assim, métodos de prevenção mais simples precisam ser exercitados. “Embora o Instituto Butantan tenha solicitado o registro de uma vacina contra dengue, o que pode levar as pessoas a relaxarem as medidas de combate à proliferação do Aedes aegypti, o processo de liberação da vacina ainda está em análise pela Anvisa, que é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, e levará algum tempo para que a vacina esteja amplamente disponível na população. Então, até lá, a prevenção permanece como única medida eficaz para evitar novos surtos da doença.”


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