A inteligência artificial – e isso é um fato – está sendo cada vez mais usada em campanhas políticas para influenciar eleitores. O problema, segundo Luli Radfahrer, é que as redes sociais são empresas não reguladas, que visam ao lucro e, para visar ao lucro, têm que manter o cara preso o tempo todo. “Se você pega a televisão no horário matutino, como é que ela funciona para prender as pessoas o tempo todo? Basicamente ela coloca alguma coisa que chama muito a atenção, então é um programa de culinária ou aqueles da tarde muito comuns, programa de crime, crime, crime, por quê? Porque isso mexe com a sua emoção e você fica lá um tempão. As redes sociais são isso. Agora imagine um indivíduo que só se informa com coisas que o deixam preocupado ou reforçam o ponto de vista dele ou deixam ele muito nervoso com qualquer coisa que mude o seu dia a dia. Ele vai ter uma atitude mais radical”, diz o colunista.
Uma outra peça nesse tabuleiro tem a ver com a desinformação, principalmente em épocas eleitorais. “Hoje a gente tem artigo de notícia falsa, texto narrado falso, inteligência artificial duplicando a voz de candidato, então agora não é mais só o texto estranho, mas eu vou ouvir a voz de um candidato que eu não gosto falando alguma coisa absurda, então isso não sobrevive a um exame detalhado, mas é cada vez mais difícil de identificar.” Some-se a isso os algoritmos nas redes sociais “porque, além deles reforçarem o discurso polarizador e sensacionalista, você percebe que é cada vez mais difícil achar numa rede social uma informação equilibrada. Se você pega, por exemplo, a sua página principal do YouTube, ela tem o seu viés. Se você não gosta, por exemplo, de funk, você não vai encontrar funk na sua página do YouTube, então a sensação que você tem é que ninguém nunca mais ouviu funk, e a mesma coisa acontece com visão política”.
Caberia, aos governos e às empresas de tecnologia, mitigar os riscos, mas seria isso possível? “Olha, pedir para uma empresa mitigar o risco é como pedir para o cachorro controlar a ração, nunca vai dar certo, então o governo precisa entrar com uma regulamentação mais rigorosa, com transparência no conteúdo gerado por inteligência artificial e mecanismo robusto de verificação de fatos. É só você pensar que isso não é extremo […] você não pode publicar qualquer coisa, você não pode falar qualquer coisa, então, por que na rede social você fala? Ainda mais se a rede social é hoje o principal canal de comunicação.”
Datacracia
A coluna Datacracia, com o professor Luli Radfahrer, vai ao ar quinzenalmente, sexta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7 ; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP Jornal da USP e TV USP.
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