Derrota da seleção brasileira para a Alemanha, há dez anos, marca a queda do futebol no País

Guilherme Wisnik acredita que o problema do futebol brasileiro é a falta de meio-campo, o que avalia também ser um problema simbólico do País, ambos com seus extremismos

 Publicado: 11/07/2024     Atualizado: 12/07/2024 as 8:59

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Na coluna desta semana, o professor Guilherme Wisnik comenta os dez anos que a Seleção Brasileira foi derrotada pela Alemanha por 7 a 1. “Esse é um fato trágico de grandes proporções históricas, uma espécie de início de uma derrocada do futebol brasileiro e também do País, de certa maneira”, avalia. Ele lembra que, dois anos depois, veio o impeachment da Dilma e, depois, toda a crise que resultou no bolsonarismo. “Esse fato afeta a nossa autoimagem. É como se incidisse no coração da nossa própria autoconfiança, inaugurando um período de dez anos em que o Brasil parece que não se encontra mais consigo mesmo.”

O professor comenta que a crise parece atingir os ídolos do futebol, muitos deles apoiadores de movimentos extremistas, neutros, ou pouco politizados. “Embora o Vinicius Junior seja um grande líder mundial no combate ao racismo, os jogadores brasileiros em geral têm uma posição política muito complicada, o que também deve ser posto em contexto, porque muitos dos jogadores franceses, por exemplo, que se colocaram contra a extrema-direita, estão mais diretamente ligados à questão da xenofobia versus imigração e racismo.” Embora reconheça que essas comparações são complicadas, concorda que muitos ídolos recentes são jogadores mimados e preocupados com questões fúteis, como o cabelo, aparentando um estilo de vida superficial e consumista, bem diferentes de jogadores politizados como o doutor Sócrates e seu irmão Raí, ou mesmo Romário, “que era um bad boy claramente vindo do subúrbio, mas que tinha uma questão de afirmação pessoal que não dava margem para esse tipo de futilidade”.

Wisnik considera que o grande problema do futebol brasileiro é a falta de meio-campo, o que avalia também ser um problema simbólico do País com seus extremismos. “O time tem defesa e tem ataque, não para de produzir atacantes, mas não tem mais o meio-campo. E um time sem meio-campo não consegue funcionar, assim como um país sem mediações vira uma guerra civil.”


Espaço em Obra
A coluna Espaço em Obra, com o professor Guilherme Wisnik, vai ao ar  quinzenalmente quinta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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