Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e de Harvard realizaram um estudo a respeito do desempenho em testes físicos para ajudar a direcionar o tratamento do câncer de pulmão. Ao analisar pacientes com metástase e caquexia, eles concluíram que quanto melhor o condicionamento físico maiores as chances da terapia ser bem-sucedida.
Gilberto Castro, chefe do Grupo de Oncologia Clínica de Tórax, Cabeça e Pescoço do Instituto do Câncer do Estado de SP (Icesp) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina (FM) da USP e orientador do estudo, explica que o câncer de pulmão é o tumor que mais mata em todo o mundo, somando de 1,7 a 1,8 milhões de mortes por ano. A maioria dos casos ainda está relacionada ao tabagismo, um fator evitável e que deveria ser uma prioridade de saúde pública. Nos pacientes em estágio avançado, que possuem metástases em órgãos como cérebro e fígado, a sobrevida média é de apenas dez meses, mesmo com tratamento quimioterápico. “A qualidade de vida desses pacientes é muito ruim”, acrescenta o professor.
Quimioterapia
O estudo, que já se estende por mais de cinco anos, analisou pacientes do chamado câncer de pulmão não pequenas células, buscando entender o papel da funcionalidade física na resposta ao tratamento. Simples testes físicos, como o tempo de caminhada, a capacidade de se levantar de uma cadeira repetidamente e a força de preensão manual mostraram-se indicadores significativos do possível desfecho dos tratamentos quimioterapêuticos. “Esses testes, que são coisas simples, conseguiram identificar que aqueles pacientes que têm uma boa funcionalidade vão ter maior benefício do tratamento. Os de pouca funcionalidade, infelizmente, vão ter pouco benefício do tratamento”, afirma Castro.
A partir dos resultados, os pesquisadores propõem que pacientes com baixa aptidão física talvez não devessem passar pela quimioterapia, já que os efeitos adversos, como náuseas e perda de apetite, podem piorar sua qualidade de vida. “Para esses pacientes, provavelmente, o melhor cuidado seria manter a boa qualidade de vida deles sem quimioterapia”, destaca o especialista. O impacto econômico de um direcionamento mais criterioso também é significativo, pois o tratamento do câncer é extremamente oneroso.
Futuro da pesquisa
Um próximo passo que o estudo pretende explorar é se a reabilitação física pode contribuir para melhorar a aptidão de pacientes com baixa funcionalidade. A ideia é investigar se o exercício físico pode ser incorporado como uma forma de “remédio”, ajudando a melhorar a resposta ao tratamento. Segundo Castro, ainda não há resultados, mas é uma linha de pesquisa promissora e que pode abrir um novo campo de intervenção terapêutica.
Além de pesquisadores do Icesp e da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, a pesquisa também contou com uma colaboração da Harvard Medical School, onde o pesquisador Willian das Neves Silva realizou experimentos em células musculares para estudar substâncias presentes no sangue de pacientes com caquexia, uma condição de perda de massa muscular e funcionalidade. “Há uma série de substâncias que estão circulando no sangue desses pacientes que, de alguma forma, interferem bastante negativamente com o metabolismo dessas células. Logo, a gente precisa trabalhar nesse cenário também. Como é que eu conseguiria reprogramar essa alteração e reverter essa produção dessas substâncias inflamatórias tão nocivas nesses pacientes?”, conclui.
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