O impacto global das eleições nos Estados Unidos, em especial para a ciência, é o tema da coluna do físico Paulo Nussenzveig. “A comunidade científica mundial está tensa, pela importância e influência dos Estados Unidos para os destinos do planeta”, afirma. “Estamos diante de uma crise climática e de uma pandemia, cujo enfrentamento exige conhecimentos científicos, e a nação com o maior sistema de pesquisa do planeta não exerceu liderança, ou pior, exerceu liderança obscurantista desde 2017.”
“Os cientistas têm, cada vez mais, se sentido na obrigação de falar sobre política, como eu mesmo tenho feito neste espaço. Vários de nós preferiríamos falar de descobertas recentes, de aplicações fantásticas de conhecimento gerado pela engenhosidade de seres humanos, de fascinantes histórias de como fazemos ciência”, aponta o físico. “Mas, como diz o título de um artigo de opinião publicado na revista Nature em 15 de outubro, se estamos cansados de ver a ciência ser ignorada, precisamos nos envolver na política. Mary T. Bassett argumenta que a ideia de que pesquisadores competentes são apolíticos é falsa e custa vidas. A situação exige envolvimento maior de cientistas com a política, pois a política está interferindo na ciência”.
“Nos Estados Unidos, o atual governo indicou lideranças sem conhecimento científico ou experiência à frente de importantes agências, como os Centros de Controle de Doenças (CDC) e a agência de proteção ambiental”, ressalta Nussenzveig. “Durante a pandemia, o CDC ficou subordinado a uma força-tarefa liderada pelo vice-presidente Pence e por Jared Kushner, genro do presidente, ambos sem qualquer conhecimento de doenças infecciosas. No Brasil, um general sem conhecimento médico e que sequer conhecia o SUS comanda o Ministério da Saúde.”
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